O perigo das correntes de ar
O“mar de rosas” que, com pompa e circunstância, conforma o discurso do Governo colou. Os portugueses sentem, mais por indução do que por dedução, que a situação do País é melhor, há mais desafogo, a economia recupera e a credibilidade externa foi restaurada.
Por isso, a descompressão que vivem leva a que gastem mais, revivam prazeres e hábitos antigos, consumam e se endividem.
As próprias campanhas autárquicas são o espelho deste novo clima com promessas de muitas obras e gastos públicos – necessários uns, sumptuários a maior parte – e com a evidência duma lógica clientelar apetente de lugares e mordomias que vai alimentando o que, apesar disso, é morno e decorre perante uma generalizada indiferença. Face a este ambiente de um tímido optimismo dois discursos se defrontam. Ambos capciosos. Um de encómios ao génio da dupla Costa/centeno, artífices do “milagre económico português”. Outro da negação persistente de tudo, mesmo do que, efectivamente, corre melhor.
Perante esta dialéctica, sem síntese possível, resta perguntar onde está o bom senso e a prudência. Os 249 165 milhões de dívida pública segundo o BDP (132,4% do PIB) continuam a ensombrar o futuro e a envergonhar-nos junto dos nossos parceiros europeus. A insignificância da poupança privada, batendo recordes, embora com justificações várias, desde logo a total ausência de instrumentos que a cativem e promovam, não consente nem festas nem festanças.
Em suma, andamos melhorzinho mas ainda sem resistências para suportar uma leve constipação. E as correntes de ar vêm aí, já no próximo Orçamento. Cheira-me…!
O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia