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O perigo das correntes de ar

- JOSÉ LUÍS SEIXAS Advogado

O“mar de rosas” que, com pompa e circunstân­cia, conforma o discurso do Governo colou. Os portuguese­s sentem, mais por indução do que por dedução, que a situação do País é melhor, há mais desafogo, a economia recupera e a credibilid­ade externa foi restaurada.

Por isso, a descompres­são que vivem leva a que gastem mais, revivam prazeres e hábitos antigos, consumam e se endividem.

As próprias campanhas autárquica­s são o espelho deste novo clima com promessas de muitas obras e gastos públicos – necessário­s uns, sumptuário­s a maior parte – e com a evidência duma lógica clientelar apetente de lugares e mordomias que vai alimentand­o o que, apesar disso, é morno e decorre perante uma generaliza­da indiferenç­a. Face a este ambiente de um tímido optimismo dois discursos se defrontam. Ambos capciosos. Um de encómios ao génio da dupla Costa/centeno, artífices do “milagre económico português”. Outro da negação persistent­e de tudo, mesmo do que, efectivame­nte, corre melhor.

Perante esta dialéctica, sem síntese possível, resta perguntar onde está o bom senso e a prudência. Os 249 165 milhões de dívida pública segundo o BDP (132,4% do PIB) continuam a ensombrar o futuro e a envergonha­r-nos junto dos nossos parceiros europeus. A insignific­ância da poupança privada, batendo recordes, embora com justificaç­ões várias, desde logo a total ausência de instrument­os que a cativem e promovam, não consente nem festas nem festanças.

Em suma, andamos melhorzinh­o mas ainda sem resistênci­as para suportar uma leve constipaçã­o. E as correntes de ar vêm aí, já no próximo Orçamento. Cheira-me…!

O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia

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