«O cinema português vive de ciclos»
CSurgiunumencontro no Festival de Berlim, há quatro anos atrás, com os produtores Fabiano e Caio Gullane. Tinha a necessidade de, nestes 15 anos que trabalho com o Brasil, produzir algo que funcionasse na grande distribuição em sala.
Foi fácil gerir esta produção? Houve choques culturais entre os núcleos portugueses e brasileiros ou as afinidades históricas e culturais ajudaram a ultrapassar barreiras?
Foi bastante fácil. Na verdade, é até aliciante quando podermos contar com equipas dos dois países, porque se enriquecem reciprocamente. Gosto de trabalhar com o Brasil, aprendo muito com as equipas brasileiras. Acho que a qualidade do meu trabalho fica fortalecida.
Foi demorado, mas fácil. Todos os personagens ficaram claros e a escolha dos atores, principalmente os portugueses, foi óbvia para mim. Difícil foi encontrar a protagonista [a triz brasileira, Paolla Oliveira]. Acho que andei mais de um ano e meio à procura. E acho que fiz a melhor escolha: a Paolla foi a escolha mais que acertada, assim como todo o elenco.
Na sua opinião, como está o atual estado do cinema em Portugal? Sente que nos últimos anos conseguiu-se criar realmente um conceito de ‘cinema comercial, no melhor dos sentidos do termo?
O cinema português vive de ciclos. Nestes últimos dois anos está num ciclo de recuperação. Estas aparentes pequenas vitórias são apenas momentos. Na verdade, o cinema português nunca viveu um período de grande fulgor e êxito, o que me entristece. Acho que já houve, antes de mim, pessoas de grande mérito, que fizeram um esforço enorme para levar público às salas... eu participei desse grupo. Por outro lado, há o cinema português que anda em festivais e nos últimos dois, três anos temos tido uma participação bem interessante neste circuito. Se olharmos por esse prisma, estamos a fazer um bom trabalho. Contudo, o cinema português como estrutura não está bem. Se não se tomarem algumas decisões podemos voltar à crise no cinema, como já tivemos há alguns anos.