Na valência da independência
Durante uma quinzena, o futebol foi secundarizado no apreço popular. As eleições autárquicas propiciaram milhares de candidaturas na mancha nacional, com pluralidade dos quadrantes ideológicos, suscitando as atenções generalizadas, porque são, todos os quadriénios, a mais exaltante revelação de proximidade do regime democrático. O mapa político-geográfico não se alterou de forma substancial, ainda que o PS, também em virtude da nota positiva da sua governação, possa reclamar os maiores louros, ao invés do PSD, num registo tão minguado quanto suscetível de provocar múltiplas convulsões internas.
Acompanhei, de forma apaixonada, as contendas eleitorais em duas autarquias, às quais me ligam laços afetivos (Loures) e até superlativos (Vila do Conde). Ao triunfo de Bernardino Soares, no sexto maior município de Portugal, somou-se a vitória arrebatante de Elisa Ferraz, encabeçando uma lista independente, na Princesa do Ave, terra que Régio cantou «espraiada entre pinhais, rio e mar».
Após consecutivas maiorias absolutas do PS, a Câmara de Vila do Conde foi conquistada por um movimento, criado há quatro meses pela líder autárquica, socialista dissidente, que alcançou triunfo robusto, à custa de 60% do eleitorado do PSD/CDS, 50% da CDU, 30% do PS e 20% do BE, constituindo-se uma das notas pertinentes no recente sufrágio do poder local.
A lista de cidadãos livres das amarras partidárias, capaz de caucionar amplos pareceres sem constrangimentos de maior, sinaliza um fenómeno digno de redobrada atenção. Sem desprezar as formações partidárias, no jogo autárquico a bola parece cada vez mais fiel àqueles que, pelo ideal bairrista, sabem convergir e fundar consensos, a despeito de simpatias partidárias. Trata-se de uma força em crescendo no campeonato autárquico.