Mulheres de abril
Até houve arraial de boa bola. Foi após um giro iniciado à sombra do imponente mosteiro e concluído, já em regime lunar, ao lado de arcos soberanos, esses que dão nome ao mais conhecido parque desportivo de Vila do Conde. Na cidade nortenha, beldade faz mesmo rima com realidade. E deu para ver um dinâmico e sedutor Rio Ave, apesar da derrota, perante um Sporting capaz de vencer o jogo com a vitamina da fortuna. No dia seguinte, pela primeira vez, participei num encontro dos vila-condenses nascidos em 1960. A nível local, as iniciativas desse âmbito multiplicam-se. São oportunidades para se remirarem amizades num mergulho deleitoso na infância e na adolescência, afinal as idades mais apaixonantes, porque irrepetíveis. A sensação foi extraordinária. Quase meio século de distância, os mesmos protagonistas. Distintos trajetos de vida, acumulados de sucessos ou de frustrações, mas todos sintonizados. Eramos atualizadas ou renovadas crianças, jovens-que-hámuito-deixaram-de-ser-jovens. Muitos já responderam pela herança de duas gerações, avós até no plural, mas tão netos, tão netos, que netos mais se pareciam ou sentiam que os seus próprios netos. Noutras duas meses do amplo restaurante, os nascidos num dos anos da década de 40 e outros na de 50, bem percetíveis nos rostos ofendidos pela tontura da vida, apenas homens, muitos homens. Eu intervim, a páginas tantas, perguntando alto qual era a nossa marca distintiva, a daqueles que vieram ao mundo na Vila do Conde de 1960. Perguntei e dei a resposta, perante uma plateia de ambos os sexos, quase em paridade. Nós somos, foi o que disse, com arrebatamento assisado, da geração de Abril (voluntariamente em maiúscula), altura em que a mulher começou a triunfar na luta contra a discriminação.