Destak

«Há ali uma procura de afeto e ligação»

Ben Stiller já não é um trintão. Ben Stiller já não é um quarentão. Ben Stiller é um cinquentão e começa a ganhar a sabedoria que só a idade nos pode dar. O novo “A Vida de Brad”, que estreia amanhã, ajuda a confirmar esta ideia.

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Ben Stiller veio de uma família de comediante­s natos, uma mãe e um pai que saíam para o emprego logo pela manhã e só voltavam mais tarde, depois de terem entretido audiências em clubes fumarentos abertos até de madrugada. Ansioso, simpático, por vezes com alguma dificuldad­e em encontrar voz autónoma num cenário laboral em que lhe estão sempreaped­irparafaze­rdeguardad­e museu capaz de divertir crianças. Já fez comédias que descambava­m invariavel­mente em piadolas de liceu, como foi o There is Something About Mary, com Cameron Diaz e aquele gel de cabelo. Já foi realizador ao serviço de Jim Carrey, quando Hollywood deixou que este par de loucos fosse fazer o Cable Guy, uma diatribe sóbria e perturbant­e. Hoje aparece num filme que fala, também, da sua evolução como ser humano. A história revolve em torno de uma relação entre pai e filho num mundo cheio de pequenas armadilhas e grandes expetativa­s.

Porque é que um ator de sucesso quer fazer um filme sobre um homem que tem de sobreviver às pressões sociais ligadas à ideia de sucesso? Alguma vez deparou consigo a invejar o trajeto profission­al ou pessoal de amigos?

Claro que sim. Achei que o texto de base ia por caminhos raramente vistos no cinema. Há ali um diálogo interior constante que revela a maneira como aquele indivíduo se sente à medida que evolui pela vida adentro. Sabemos como se sente, o que pensa dos amigos, as inseguranç­as face aos outros, que opinião terá de si mesmo. Há ali uma prospeção interior que mostra uma grande coragem. Um dos problemas desta arte é tentar encontrar assuntos que mereçam o nosso tempo e o nosso debate. Por vezes, nestas andanças, temos ideias que são boas, mas que se torna difícil aplicar num contexto mais vasto e re- al. No caso desta história, o que vemos é um homem que deixa de estar obcecado consigo mesmo e com o espaço que ocupa na estrutura económica e social. Ao longo daquele percurso percebemos que tudo isso acaba por desaguar em algo bem mais concreto – neste caso, a relação que consegue estabelece­r com o filho. Há ali uma procura de afeto e ligação.

Alguma vez se viu obrigado a recorrer a cunhas ou favores invulgares porque, como pai, os seus filhos esperam isso de si quando querem mesmo obter algo ou ter acesso, por exemplo, a um concerto ou a

O meu filho tem agora 12 anos e, por isso, acho que ainda é cedo para me ver confrontad­o com emergência­s desse tipo. A minha filha de 15 anos está a passar por uma fase diferente. Fomos viver para Nova Iorque há cerca de sete anos e só lhe posso dizer que ela anda absolutame­nte obcecada com o teatro musical. É aquilo que ela quer fazer quando for mais velha. Tem uma voz fantástica. Por vezes pede-me para ir em excursão familiar ver um determinad­o musical – apenas porque, depois, quer ir aos bastidores conhecer os atores todos.

É só para isso que ela quer ir comigo ao teatro! Não deixa de ser tocante. Faz-me lembrar os meus tempos de infância, Nova Iorque, os meus pais.

Que lembranças lhe ficaram dessas primeiras aventuras no espaço do teatro?

«No caso desta história, o que vemos é um homem que deixa de estar obcecado consigo mesmo»

Lembro-me que, a certa altura, o meu pai estava a fazer uma peça com o William Hurt, chamada Hurly Burly. Já foi há 30 anos, ou mais. Eu tinha,

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