«Há ali uma procura de afeto e ligação»
Ben Stiller já não é um trintão. Ben Stiller já não é um quarentão. Ben Stiller é um cinquentão e começa a ganhar a sabedoria que só a idade nos pode dar. O novo “A Vida de Brad”, que estreia amanhã, ajuda a confirmar esta ideia.
Ben Stiller veio de uma família de comediantes natos, uma mãe e um pai que saíam para o emprego logo pela manhã e só voltavam mais tarde, depois de terem entretido audiências em clubes fumarentos abertos até de madrugada. Ansioso, simpático, por vezes com alguma dificuldade em encontrar voz autónoma num cenário laboral em que lhe estão sempreapedirparafazerdeguardade museu capaz de divertir crianças. Já fez comédias que descambavam invariavelmente em piadolas de liceu, como foi o There is Something About Mary, com Cameron Diaz e aquele gel de cabelo. Já foi realizador ao serviço de Jim Carrey, quando Hollywood deixou que este par de loucos fosse fazer o Cable Guy, uma diatribe sóbria e perturbante. Hoje aparece num filme que fala, também, da sua evolução como ser humano. A história revolve em torno de uma relação entre pai e filho num mundo cheio de pequenas armadilhas e grandes expetativas.
Porque é que um ator de sucesso quer fazer um filme sobre um homem que tem de sobreviver às pressões sociais ligadas à ideia de sucesso? Alguma vez deparou consigo a invejar o trajeto profissional ou pessoal de amigos?
Claro que sim. Achei que o texto de base ia por caminhos raramente vistos no cinema. Há ali um diálogo interior constante que revela a maneira como aquele indivíduo se sente à medida que evolui pela vida adentro. Sabemos como se sente, o que pensa dos amigos, as inseguranças face aos outros, que opinião terá de si mesmo. Há ali uma prospeção interior que mostra uma grande coragem. Um dos problemas desta arte é tentar encontrar assuntos que mereçam o nosso tempo e o nosso debate. Por vezes, nestas andanças, temos ideias que são boas, mas que se torna difícil aplicar num contexto mais vasto e re- al. No caso desta história, o que vemos é um homem que deixa de estar obcecado consigo mesmo e com o espaço que ocupa na estrutura económica e social. Ao longo daquele percurso percebemos que tudo isso acaba por desaguar em algo bem mais concreto – neste caso, a relação que consegue estabelecer com o filho. Há ali uma procura de afeto e ligação.
Alguma vez se viu obrigado a recorrer a cunhas ou favores invulgares porque, como pai, os seus filhos esperam isso de si quando querem mesmo obter algo ou ter acesso, por exemplo, a um concerto ou a
O meu filho tem agora 12 anos e, por isso, acho que ainda é cedo para me ver confrontado com emergências desse tipo. A minha filha de 15 anos está a passar por uma fase diferente. Fomos viver para Nova Iorque há cerca de sete anos e só lhe posso dizer que ela anda absolutamente obcecada com o teatro musical. É aquilo que ela quer fazer quando for mais velha. Tem uma voz fantástica. Por vezes pede-me para ir em excursão familiar ver um determinado musical – apenas porque, depois, quer ir aos bastidores conhecer os atores todos.
É só para isso que ela quer ir comigo ao teatro! Não deixa de ser tocante. Faz-me lembrar os meus tempos de infância, Nova Iorque, os meus pais.
Que lembranças lhe ficaram dessas primeiras aventuras no espaço do teatro?
«No caso desta história, o que vemos é um homem que deixa de estar obcecado consigo mesmo»
Lembro-me que, a certa altura, o meu pai estava a fazer uma peça com o William Hurt, chamada Hurly Burly. Já foi há 30 anos, ou mais. Eu tinha,