As palavras
As palavras são tudo. Sentimentos, conceitos, realidades. O concreto e o virtual. O real e o imagético. Umas com sentido e outras absolutamente gratuitas. Empregues com precisão cirúrgica ou absolutamente redondas. Dispensáveis e indispensáveis. Que o vento leva ou que se prendem à alma como as lapas se agarram à rocha. Podem ser autênticas pedras preciosas, provocando intensa felicidade, luzes de encantamento e momentos de profunda satisfação. Empregues devidamente conduzem ao riso incontrolado ou à emoção transbordante. As palavras transportam o que nelas e com elas queremos significar. O bom e o mau.
O acto de amor e o mais repugnante insulto. As palavras não são, pois, só palavras. Que se lançam ao ar com a leviandade da criança que larga o balão. As palavras são um instrumento. Nobre ou perverso. A extensão do abraço ou o golpe de punhal.
Por isso, a sua importância merece que as tratemos com cuidadoso respeito. Dizendo-as com propriedade. E não as delapidando numa verborreia insana e transtornada. Como tantas vezes se ouvem. E outras tantas se leem. O que hoje de passa, a vulgarização do insulto soez a propósito de tudo, da política ao futebol, invadindo as redes sociais, os jornais e as televisões, é o exemplo do momento que vivemos. Todos nos achamos titulares de um direito absoluto a dizer tudo. A confundir a contradita com o insulto. A tecer apreciações sobre o carácter de quem não conhecemos. A propagar o boato replicando acriticamente a vozearia.
Esta civilização – que as redes sociais criaram e a comunicação social consente – espezinha um direito maior: o direito ao bom nome das pessoas e das instituições. E este caminho só tem um destino: a destruição moral da sociedade!
O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia