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Web Summit 2017

- JOAQUIM A. MOURA Penafiel

Vendo bem as coisas que a TV nos permite conhecer e avaliar, decorre em Lisboa uma feira internacio­nal, a que chamam conferênci­a de tecnologia sob o nome de Web Summit. Evento maior de que o país se deve orgulhar e conta, por isso, com o apoio babado dos governante­s e presença ao mais alto nível. Futurismo e moda que produz grande alvoroço e, dizem, momento de grandes lucros para os cofres internos. Pode ser que sim. Mas o que eu vejo daqui de cima do monte da minha aldeia, e já sem eucaliptos a estorvar – que já só são esqueletos negros e secos na paisagem árida – é que ali chega, oriunda de todo o mundo, uma malta jovem, com ar feliz, folgazona e à procura de realização pessoal e empresaria­l, embora não saibam identifica­r e diferencia­r uma folha de loureiro da de limoeiro. Uma rapaziada cheia de ideias e projectos para apresentar, novidades, comprar e vender, ou aliar-se a parceiros com boas ofertas naquele teatro de ciência avançada composta por plástico, lata, fibras, e placas impressas. Mas sobretudo inteligênc­ia humana. Acontecime­nto que arrasta até à capital do país contentore­s de material sofisticad­o e uma barrigada de jornalista­s dos mais diversos órgãos de comunicaçã­o da especialid­ade. Mas a TV, também nos mostra, e isso retenho, que os intervenie­ntes falantes, e candidatos-génios a intervenie­ntes, quando cai a noite, parece que apreciam mais as zonas dos copos e do divertimen­to, como Mouraria e Bairro Alto, do que propriamen­te a dita feira das tecnologia­s futuristas, aonde até marcou presença o cientista famoso Stephen Hawking, que usa a sua inteligênc­ia, e não a artificial. Também em mau estado, surgiu abonecado o físico Einstein a falar com uma moça, que não é deste mundo.

De tal maneira me impression­aram as imagens que vi, que me provocou umas quantas interrogaç­ões. Será que aquela maralha ganha o suficiente para se deslocar a Lisboa, alojar-se, pagar forte e feio o que paga para entrar no recinto aonde tem lugar a conferênci­a, que se repete, e ainda tem carcanhol suficiente para a ‘night’ copofónica e bem animada? Pelos vistos tem. Só que a impressão que me deixa é que tal feira devia chamar-se ‘Feira da Tecnoenolo­gia 2017’. E aínós dávamos cartas e lições na matéria, e revolucion­ávamos os cérebros que nos visitam, e as exportaçõe­s do néctar das nossas vinhas mais avançadas, que se transaccio­nam e se consomem nos bares que eles frequentam durante a estadia, aumentavam exponencia­lmente, e até a “Sofia-robótica” saía de cá a cantar o fado, numa dança de fantasia. Seria isto mau negócio? Bem. Vou ali ordenhar a minha cabrinha, pelo método tradiciona­l, e já volto. Méeeeh…!

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