Vieira e o poder
Perdoe-se-me a intrepidez, mas alguém de bom senso aguenta espaços televisivos, enunciados de discussão desportiva? Com poucas exceções, jornalistas malogrados, ex-jogadores desaviados, palradores subordinados e até políticos subjugados desfilam, quotidianamente, num indecoroso assassinato à bola que apregoam defender.
São do Benfica, são do FC Porto, são do Sporting. Dizem que são e acreditam que são. E são? Até são. Só que não são o que pensam que são. São o que são, porque são correias de transmissão, são vozes de submissão, são ruídos de imprecação. Também são Guerras, são Saraivas, são Marques. São enterras, são raivas, são traques. Perdoe-se-me a intrepidez, outra vez. Alguém ouviu um jogador ou um treinador, nos últimos tempos, proferir uma intervenção poluidora, malfeitora, sangradora? A razão? É a falta de razão. Dos outros, dos epifenómenos mediáticos. Um exemplo? Francisco J Maques ou aquele que protagoniza o maior sucesso taticista do seu clube, na doutrina da manipulação, após quatro anos de jejum competitivo, mais a cumplicidade infantil do Benfica. Agora, na apresentação de um livro, escreve que Luís Filipe Vieira assumiu, «muito cedo que um dos objetivos estratégicos do clube (o Benfica) passava pelo controlo de posições na estrutura-chave das instituições».
Vieira disse, mas é preciso contextualizar e eu sou a melhor testemunha. Foi em junho de 2002, à saída da velha Luz, íamos ambos para o norte, havia uma importante reunião da Liga de Clubes no Porto. Os jornalistas, tratando-se do defeso, questionaram o então gestor do futebol sobre aquisições. Vieira só disse que, naquela altura, naquele preciso momento, importante era definir posições na Liga.
O Benfica não esclarece, esclareço eu. Ao cuidado de afinadores, auditores e delatores.