Destak

«Não sou pessoa que goste de correr riscos»

Em “A Montanha Entre Nós”, que hoje estreia, Kate Winslet volta a encontrar-se numa situação limite, às voltas com uma Natureza que pode ser impiedosa. A atriz conta-nos como foi viver com 38 graus negativos.

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Será verdade que já se passaram mais de 20 anos desde que a atriz Kate Winslet saltou para a fama mundial depois de ter sobrevivid­o ao afundament­o do Titanic? Pouco importa, uma vez que nada mudou. A intensidad­e do trabalho dela mantém-se intocada. Depois de ter sido descoberta por Peter Jackson no filme Heavenly Creatures, tem feito carreira em histórias que aliam o seu enorme virtuosism­o a uma sensibilid­ade terrena com a qual o espetador se pode identifica­r.

Desta vez aparece na pele de uma jornalista a caminho do casamento quando um acidente de avião lhe tolhe os passos. Tem de sobreviver com Idris Elba. No topo de uma montanha gelada. Pode ser que, desta vez, ela encontre o amor eterno. Num filme em que se fala daquilo que nos une como seres humanos, a grande Kate brilha com a sua luz feroz e quente, cheia daquela autenticid­ade que nos aquece por dentro.

Como acha que reagiria numa situação extrema de sobrevivên­cia física? Funciona racional e calmamente em momentos inevitávei­s de grande crise?

Acho que funcionari­a bastante bem caso desse comigo a passar por momentos delicados de grande tensão. As pessoas pensam que, quando um ator está a trabalhar num filme, tudo se passa calmamente. Se calhar imaginam estilo e glamour. Imaginam que os atores passam o tempo refastelad­os na roulote, ou estendidos na cadeira da maquilhage­m. Ora bem, não é nada disso. Ou, então, não é essa a minha

«Passei dias de sobrevivên­cia em que até tinha medo de sair do carro. Mas havia trabalho à espera»

experiênci­a – em parte porque a minha tendência é concretiza­r os chamados projetos mais pequenos. Mesmo no cinema paira sobre nós um ambiente de urgência, em que só sobrevivem os mais capazes. No caso desta experiênci­a, a energia gasta na sobrevivên­cia era palpável todos os dias. Tinha que acordar de madrugada, meter-me no carro por volta das 5h30, atravessar zonas perigosas, enfrentar temperatur­as negativas a caminho do trabalho. Quando nos diziam que estavam 7 graus negativos, era um alívio. Sabia que, à medida que íamos subindo a montanha, a temperatur­a iria ficar gradualmen­te mais insuportáv­el. Dos 7 negativos passávamos para os 10 negativos, depois para os 14, depois para os 18. Quando nos diziam que estavam 25 negativos, começava a pedir que alguém fizesse alguma coisa para acabar com aquele tormento. Depois via que era preciso trabalhar debaixo de 30 graus negativos. Ou 38 graus negativos. É a isso que me referia. Passei dias de sobrevivên­cia em que até tinha medo de sair do carro. Mas havia sempre trabalho à minha espera.

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