O orgulho, a morte e o vazio
Para lá dos encómios a Centeno e à sua eleição para Presidente do Eurogrupo, pontuados por algumas análises que merecem ser reflectidas – como o magnífico artigo de Maria Fátima Bonifácio no Observador de ontem –, a comunicação social deu nota da intervenção do Presidente da Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Jorge Soares, proferidas no encerramento do ciclo de debates “Decidir sobre o final da vida”. As suas afirmações sobre como se morre em Portugal – «mal, sem afecto e compaixão» –, a consideração de que, apesar das evoluções científicas e da medicina, «não se alivia o sofrimento sem empatia ou compaixão», remeteu-me para o que há alguns anos escrevi nesta coluna e que, me atrevo a recordar: «(…) cabe interrogar o que fizemos de nós próprios? Talvez a resposta que encontremos nos ilumine sobre as razões da crise que atravessamos. Invertemos todos os valores e abjuramos todos os compromissos. Deixamos de ser Homens e Mulheres, Pais e Filhos, Esposos, Vizinhos, Cidadãos. De tudo abdicamos em função de um êxito profissional fugaz, do prazer de um instante, de um narcisismo cego, de um egocentrismo que nos secou por dentro até às entranhas. Repudiamos o sacrifício (como se ele não fizesse parte da vida), desvalorizamos a ética, acolhemos um relativismo que nos levou à desgraça. Poderá o leitor pensar que tudo isto não passa de uma arenga de maus fígados. Admito. Mas, creiam, esta é a razão profunda da crise dramática em que a Europa e os Estados Unidos mergulharam. O hedonismo, a especulação e a ganância soterraram a honradez, a seriedade, a probidade, a generosidade e a fraternidade. Esta nossa transformação deu frutos. Estamos, pois, a colher o que semeamos.» E, acrescento hoje ligando os três temas: não é a vanglória que se esvai na espuma do tempo que vence a crise que nos submerge.
O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia