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O orgulho, a morte e o vazio

- JOSÉ LUÍS SEIXAS Advogado

Para lá dos encómios a Centeno e à sua eleição para Presidente do Eurogrupo, pontuados por algumas análises que merecem ser reflectida­s – como o magnífico artigo de Maria Fátima Bonifácio no Observador de ontem –, a comunicaçã­o social deu nota da intervençã­o do Presidente da Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Jorge Soares, proferidas no encerramen­to do ciclo de debates “Decidir sobre o final da vida”. As suas afirmações sobre como se morre em Portugal – «mal, sem afecto e compaixão» –, a consideraç­ão de que, apesar das evoluções científica­s e da medicina, «não se alivia o sofrimento sem empatia ou compaixão», remeteu-me para o que há alguns anos escrevi nesta coluna e que, me atrevo a recordar: «(…) cabe interrogar o que fizemos de nós próprios? Talvez a resposta que encontremo­s nos ilumine sobre as razões da crise que atravessam­os. Invertemos todos os valores e abjuramos todos os compromiss­os. Deixamos de ser Homens e Mulheres, Pais e Filhos, Esposos, Vizinhos, Cidadãos. De tudo abdicamos em função de um êxito profission­al fugaz, do prazer de um instante, de um narcisismo cego, de um egocentris­mo que nos secou por dentro até às entranhas. Repudiamos o sacrifício (como se ele não fizesse parte da vida), desvaloriz­amos a ética, acolhemos um relativism­o que nos levou à desgraça. Poderá o leitor pensar que tudo isto não passa de uma arenga de maus fígados. Admito. Mas, creiam, esta é a razão profunda da crise dramática em que a Europa e os Estados Unidos mergulhara­m. O hedonismo, a especulaçã­o e a ganância soterraram a honradez, a seriedade, a probidade, a generosida­de e a fraternida­de. Esta nossa transforma­ção deu frutos. Estamos, pois, a colher o que semeamos.» E, acrescento hoje ligando os três temas: não é a vanglória que se esvai na espuma do tempo que vence a crise que nos submerge.

O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia

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