«Para [o Tommy], aquele filme era tudo»
Nada melhor que começar o ano com uma entrevista com James Franco, ator, realizador e produtor de uma das grandes surpresas dos tempos recentes da 7ª Arte, o aclamado “Um Desastre de Artista”, filme que estreia hoje.
Ahistória de Tommy Wiseau – o realizador daquele que é considerado o melhor pior filme de sempre, The Room – parece ter sido feita à medida de James Franco. Ninguém como James Franco para dar atenção aos despojados da vida. No caso de Tommy Wiseau, o caso é gritante. Foi ele quem, nos anos 90, gastou milhões de dólares para produzir uma peça de cinema intragável, publicitada nas avenidas de LA com cartazes gigantescos que mostravam apenas um homem vesgo sem grandes atrativos comerciais. O filme, em toda a sua pretensão artística e em todo o seu desastre financeiro, tornou-se lendário. Quer dizer, transformou-se em conversa de café, ponto de referência pop, caso para ser estudado. Será a obra de Tommy Wiseau uma viagem de vaidade onanista ou um hino de alma magoada cantado a um mundo irreconhecível? O debate começa agora, guiado pelo grande animador de corpos e almas na margem, o senhor artista torturado James Franco.
Fale-me desta experiência de fazer um filme com o seu irmão. Foi algo que lhe pareceu natural, tendo em conta a fraternidade que existe entre os dois sujeitos da história?
Foi realmente muito fácil colaborar com o meu irmão. É sempre tão estranho como as coisas acontecem. Neste último ano só trabalhei como ator durante duas semanas. Estive a fazer umas cenas num projeto dos irmãos Coen, chamado The Ballad of Buster Scruggs. São os meus realizadores preferidos. Foi tão bom poder observar a maneira como trabalham entre si, a dinâmica das ideias, a forma como um irmão mais velho se relaciona com o mais novo, e viceversa. Acabavam as frases um do outro, sabiam como se dar espaço mutuamente, tinham consciência de quando não deviam invadir o território alheio. Foi, ao todo, uma experiência de grande valor para mim e que me deixou inspirado. Quando frequentava as aulas de realização na Universidade de Nova Iorque, costumava dizer – por vezes até em voz alta – que gostaria muito de ter um colaborador próximo. Queria o meu irmão Coen. Até que me dei conta que já tinha um irmão Franco. Acho que a nossa colaboração neste filme surgiu na altura certa. O Davy é muito adulto, muito mais profundo do que seria justo presumir.
Como estruturou o filme? Queria que o seu filme se parecesse
Boa pergunta! Gosto de falar sobre isso. Ora bem, quando eu e o Seth Rogen e as companhias de produção começámos a falar no assunto, claro que havia uma série de filmes que nos iam servindo de referência. Havia o Boogie Nights, o Ed Wood e até o Sunset Boulevard. Em todos eles temos uma história que envolve cineastas e a ideia de que a vida é um filme a ser produzido. Há um realizador e vários intervenientes, todos eles com um défice de perspetiva exterior. No caso do Boogie Nights, os atores estão ali para apresentar pornografia. São, de outra forma, atores péssimos. Mas, pela forma como nos são apresentados, acabamos por gostar deles. Interessamo-nos por eles. Queremos acompanhar e saber as origens da vida interior que eles levam. A Norma Desmond, do Sunset Boulevard, mantem uma grande bruma na memória, pelo menos em memória de perceção
«Queria o meu irmão Coen. Até que me dei conta que já tinha um irmão [Dave] Franco»