Destak

«O Tommy [Wiseau], como pessoa, não se percebe logo. Como vamos entrar naquilo?»

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pessoal. Não está a ver bem as coisas. Mas, tal como o Tommy do nosso filme, olha para o cinema como sendo a salvação. Olha para o William Holden como se ele fosse o passaporte para a redescober­ta. Vai ser através dele, um estranho até há pouco tempo, que ela vai arrebatar outra vez uma posição de glória. Ora bem, foram estes alguns dos tons mais vívidos que trouxemos para a nossa história.

Quais foram os desafios mais delicados ao fazer um filme sobre... um filme mau?

Desde logo a dificuldad­e era saber que tipo de personagem tínhamos ali. O Tommy, como pessoa, não se percebe logo. Como vamos entrar naquilo? Decidimos que só iríamos conseguir saber coisas sobre ele se falarmos da maneira que ele se relaciona com os outros. Especialme­nte com o seu ‘compagnon de route’, ator principal e único amigo. Para falar da relação fomos buscar a dupla Neustadter e Weber, que já tinham escrito os filmes (500) Dias com Summer ou A Culpa é das Estrelas. São ambos muito bons a criar histórias de amor. Depois tivemos que ir buscar diretores de fotografia e cinematogr­afia que, como no caso do Boogie Nights e do Ed Wood, conseguiss­em dar um ar de luxo a cenas que são mais próprias da arte de cordel. É difícil conseguir dar um aspeto de filme respeitáve­l quando o material vem com estes contornos. Digo isto porque o Tommy é mesmo uma pessoa única. O que se conta no filme não tem nada de farsa. Mas o Tommy, como pessoa, parece fazer parte do universo da farsa. Foi por isso que preferimos um tom de câmara mais realista. Fomos inspirados pelo Matt Libatique, o mestre filipino que trabalha quase sempre com o Darren Arnofsky. Fomos também muito influencia­dos pelos irmãos Dardenne, cineastas da Bélgica.

Falemos um bocadinho da sua vida e da sua carreira tão pessoal e individual: qual é o seu The Room, o grande passo desastroso que ficou para sempre à vista de toda a gente?

Neste tema tenho uma história inultrapas­sável porque, como se lembra, apresentei os Óscares. No caso do Tommy e do filme dele, The Room, havia ali um investimen­to total. Para ele, aquele filme era tudo. E, se ler o livro, verá que foi durante as filmagens do The Room que o Tommy chegou ao fundo do seu desespero existencia­l. Aliás, nas cenas escritas que ele traz mais tarde para as filmagens, a personagem dele suicida-se. Ou seja, o texto continha toda a angústia do autor. No meu caso a situação era diferente. Nunca vi a coisa como “Tenho mesmo de fazer isto. Senão, morro!”. Aliás, nem se- quer fazia parte dos meus grandes desejos. Nunca tinha sonhado em apresentar os Óscares. Mas a oferta foi posta à minha frente e eu disse que sim. Expus-me. E não correu nada bem. Sim, também eu sei como é duro quando o público – e no meu caso, ao contrário do Tommy, foi mesmo um público muito grande – avalia o nosso trabalho de maneira tão ríspida. Depois dos Óscares senti-me mesmo mal. Voltei para a costa Leste e escondi-me num hotel de New Haven. Foi durante os tempos em que tinha voltado para a universida­de. Um soco emocional tão forte. Frequentav­a as aulas e, depois, refugiava-me no meu quarto.

«Nunca tinha sonhado em apresentar os Óscares. [...] Expus-me. E não correu nada bem»

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