Motociclistas negam ser bode expiatório
Milhares de motards recusam a ideia de que estão a provocar mais acidentes nas estradas e contestam a lei que impõe inspeções obrigatórias aos motociclos.
Lisboa, Porto, Faro, Coimbra, Funchal e Ponta Delgada foram as cidades que ontem acolheram à tarde milhares de motociclistas que se concentraram em protesto contra «a farsa das inspeções às motos» e a «manipulação da sinistralidade» rodoviária. Em causa está a intenção do Governo de avançar até junho deste ano com as inspeções periódicas a motociclos, justificando esta medida com o aumento do número de acidentes mortais com motociclos em 2017.
Só que quem anda sobre duas rodas contesta esta medida e coloca em causa a sua verdadeira intenção. António João, do Grupo de Ação Motociclista (GAM), admite um aumento da mortalidade no ano passado, mas contrapõe um dado que normalmente não é referido. «Há uma diminuição de vítimas mortais e feridos graves comparativamente com o número de motos em circulação e os quilómetros percorridos», refere à Lusa.
Ou seja, embora seja de lamentar, o maior número de mortos resulta de um aumento considerável das motos a circular – já comprovado por outros estudos – e não tanto por falta de condições técnicas dos veículos. Aliás, «um estudo europeu diz que apenas 0,3% dos acidentes são causados por falha mecânica» – especialmente falhas nos pneus, diretamente relacionadas com as condições da via.
Face a isto, «as inspeções às motos não vão adicionar alguma mais-valia em termos de prevenção da sinistralidade». Cartazes como «inspeção garante receita, não prevê sinistralidade» mostraram a convicção dos motociclistas: esta nova obrigação visa dar mais volume de negócio às empresas de inspeção.
Partidos recebem manifesto
Após um desfile pelas ruas de Lisboa, os motocilistas entregaram um manifesto aos partidos com assento na Assembleia da República, no qual dizem que as vítimas na estrada não podem ser usadas para criar medidas injustificadas. Refira-se que o PCP contesta as novas regras.