É tudo uma questão de risco
Confesso que não percebo a obsessão de casar a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) com o Montepio Geral. É um tema que tem vindo a ser debatido há uns bons meses, mas agora parece estar na iminência de acontecer. Nos estatutos da SCML podemos ler que a sua finalidade é «a realização da melhoria do bem-estar das pessoas, prioritariamente dos mais desprotegidos». Ora, o Montepio, que tem um banco que não anda de boa saúde, não me parece preencher o requisito de uma pessoa desprotegida. Sim, é verdade que a SCML tem muitas e variadas atividades que procuram gerar receita para se cumprir esta finalidade. Mas será que a aproximação ao setor bancário é um passo que irá potenciar esse resultado? Penso que não tem passado despercebido a ninguém neste país (ou fora dele), o facto do setor bancário ser responsável pelas maiores incertezas de toda a economia. Uns desapareceram e outros precisaram de intervenção externa extraordinária para que pudessem subsistir. Acredito que nos inúmeros estudos que são feitos sobre a opção da SCML entrar no Montepio, apareçam projeções de rentabilidade interessantes e muitos argumentos que respondam a este receio. Se assim não fosse, nem haveria questão sobre o tema. Mas não sendo possível prever o futuro, o que está em cima da mesa é tudo uma questão de risco. Até que ponto faz sentido ter a SCML no universo do famoso “risco sistémico” do setor bancário? Provavelmente dirão que o nível de exposição não é assim tão grande face ao universo das atividades da SCML (lembremo-nos que eles têm o monopólio dos jogos de apostas em Portugal), mas havendo um risco tão evidente de este casamento, com alguém que vem da família dos bancos, não trazer felicidade para aqueles a quem a SCML tem como missão servir, então, será legitimo concretizar-se esta união?