Está tudo doido
Primeiro foi o inverno que não veio e as praias cheias de gente. O calor no verão foi de tal forma que derreteu casas, árvores, pessoas. Agora é o vento que dobra ao meio as árvores, faz assobiar as janelas e nós com medo do que vem a seguir. A televisão mostra-nos imagens de locais que conhecemos ou já vimos antes e que se transformaram em gelo, o branco a cobrir tudo e o frio que ninguém sentira antes na sua vida ou na dos seus antepassados, a cair e a matar. Um tornado. Dois tornados. Mas isso dantes não era só lá longe? De cada vez que uma menina simpática vem à TV falar sobre o tempo previsto para os próximos dias, invariavelmente diz o contrário do que tinha dito no dia anterior. Agora os ventos são tempestades e têm nomes bonitos, como Ema. E as notícias dizem que a Ema vai para aqui e vem dali e pronto, aparece outra qualquer, com nome igualmente bonito, o que na prática me parece a mim, que tal como as mulheres, as novas tempestades são incompreensíveis e difíceis de adivinhar o que fazem de seguida. Tudo tão estranho, quanto estranho e assustador é assistir às restantes notícias sobre o mundo, que vai ficando cada vez mais pequenino, tão pequenino que se reduz a dois ou três homens e aos seus botões. Muito provavelmente também têm botões na roupa, mas estes são aqueles que nos podem aniquilar a todos. De rompante. E onde houve antes a guerra fria com as suas muitas histórias verdadeiras ou não de espiões, agora é tudo mais fácil.
Estes homens, os mais poderosos do nosso universo, insultam-se e ameaçam-se através das redes sociais ou riem para as câmaras. Riem de quê? Para onde vamos? Seja lá para onde for, será seguramente um tempo pleno de estupidez, falta de vergonha, de humanidade e respeito. Onde está o respeito pelo cargo que cada um destes homens exerce? Assemelham-se mais a miúdos a fazer um jogo, quem consegue fazer chichi mais longe?
Está tudo doido e as árvores dobram-se ao meio e roçam as casas.