Corte nos gastos ameaça 3500 doentes
Autoridade do Medicamento determina que farmacêuticos possam substituir um medicamento biológico por um biossimilar mais barato sem consultar o médico.
Em Portugal, as estimativas dizem que 10 mil portugueses sofrem de Doença de Crohn e outros 10 mil de Culite Ulcerosa. Mas a APDI - Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino alerta que cerca de 3500 destes doentes – aqueles que estão num estado mais crítico – podem ter a sua saúde ameaçada.
Em causa está a Orientação nº 5 do órgão consultivo do Infarmed, que estipula a mudança de um medicamento biológico de referência para um biossimilar sempre que este for mais barato. Um processo que será decidido pelos serviços farmacêuticos de cada hospital, sem consultar o médico ou o doente.
«A substituição automática pelo farmacêutico é uma asneira», garante ao Destak um dos médicos que compõe o Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal, da APDI. E Fernando Magro explica porquê. Desde logo, «na doença inflamatória não está completamente demonstrado que seja completamente seguro» substituir os remédios biológicos pelos biossimilares.
Além disso, não se trata de um processo semelhante aos genéricos, que têm a mesma substância ativa do remédio original. «A molécula usada em cada biossimiliar não é a mesma, pelo que esta mudança pode dar origem a que hoje o doente faça um medicamento e amanhã outro que é mais barato. Como as moléculas são diferentes há o perigo de se desenvolver uma imunização que leve a uma perda de eficácia do medicamento», alerta o clínico. Com a consequência imediata de se agravar o estado de saúde do paciente afetado, o que pode passar por «diarreia, perda de peso e, no limite, um aumento agressivo do número de cirurgias».
A APDI admite que os biossimilares podem fazer com que mais doentes tenham um tratamento adequado à sua condição, mas recusa que «a tónica seja colocada única e exclusivamente» no controlo de custos. «Deve haver um consentimento claro do médico e do doente.»