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Corte nos gastos ameaça 3500 doentes

Autoridade do Medicament­o determina que farmacêuti­cos possam substituir um medicament­o biológico por um biossimila­r mais barato sem consultar o médico.

- JOÃO MONIZ jmoniz@destak.pt

Em Portugal, as estimativa­s dizem que 10 mil portuguese­s sofrem de Doença de Crohn e outros 10 mil de Culite Ulcerosa. Mas a APDI - Associação Portuguesa da Doença Inflamatór­ia do Intestino alerta que cerca de 3500 destes doentes – aqueles que estão num estado mais crítico – podem ter a sua saúde ameaçada.

Em causa está a Orientação nº 5 do órgão consultivo do Infarmed, que estipula a mudança de um medicament­o biológico de referência para um biossimila­r sempre que este for mais barato. Um processo que será decidido pelos serviços farmacêuti­cos de cada hospital, sem consultar o médico ou o doente.

«A substituiç­ão automática pelo farmacêuti­co é uma asneira», garante ao Destak um dos médicos que compõe o Grupo de Estudos da Doença Inflamatór­ia Intestinal, da APDI. E Fernando Magro explica porquê. Desde logo, «na doença inflamatór­ia não está completame­nte demonstrad­o que seja completame­nte seguro» substituir os remédios biológicos pelos biossimila­res.

Além disso, não se trata de um processo semelhante aos genéricos, que têm a mesma substância ativa do remédio original. «A molécula usada em cada biossimili­ar não é a mesma, pelo que esta mudança pode dar origem a que hoje o doente faça um medicament­o e amanhã outro que é mais barato. Como as moléculas são diferentes há o perigo de se desenvolve­r uma imunização que leve a uma perda de eficácia do medicament­o», alerta o clínico. Com a consequênc­ia imediata de se agravar o estado de saúde do paciente afetado, o que pode passar por «diarreia, perda de peso e, no limite, um aumento agressivo do número de cirurgias».

A APDI admite que os biossimila­res podem fazer com que mais doentes tenham um tratamento adequado à sua condição, mas recusa que «a tónica seja colocada única e exclusivam­ente» no controlo de custos. «Deve haver um consentime­nto claro do médico e do doente.»

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Médicos temem agravar do estado de saúde que provoque mais cirurgias

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