«É bom também saber que Lisboa apresenta temperaturas anuais mais elevadas. Faz calor»
o Michael e onde começou a sua carreira de cinema. A decisão aconteceu de repente?
Já andava a remoer no assunto havia algum tempo. Mas nada se tornou definitivo e mais claro até terem sido anunciados os resultados do referendo ao chamado Brexit. Isso foi fundamental, porque muita da minha carreira vinha assente em certas oportunidades. Não creio, a título de exemplo, que a indústria britânica do cinema me tivesse oferecido o meu primeiro papel, no Anna Karenina, se não houvesse uma certa rede de acordos no interior da União Europeia. Naquele caso, foi possível estabelecer um contrato de trabalho em que eu fui considerada trabalhadora local. Ora bem, o Anna Karenina foi o meu primeiro filme em inglês. Pagaram-me salário mínimo, como acontece frequentemente neste meio, e fui eu mesma quem teve de comprar a ida e volta de avião. Não sei se, no futuro, este tipo de colaboração e trânsito laboral continuem a ser possível. Imagino que, ao tempo, já tivesse havido grande celeuma porque o realizador tinha decidido escolher uma atriz não-britânica cuja fluência no idioma inglês ainda deixava muito a desejar. Se a companhia de produção tivesse sido obrigada a requerer um visto de trabalho para mim junto das autoridades, não sei teriam fundos. E eu nunca teria sido capaz de viajar até Londres só para fazer os testes de casting. O resultado do Brexit foi, para mim, um dia muito triste. Considero-me sobretudo europeia.
Sei que, este ano, completa 30 anos de vida. Grande marco histórico num percurso de maturidade e arte! Que conselho você daria a uma atriz que só agora começa a dar os seus primeiros passos nesta vida?
Só posso dar um conselho? Então é assim: não é fácil acreditar que a nossa voz conta para alguma coisa. Mas é importante falar, dizer as coisas. É fundamental usar a liberdade de expressão. Não deixes que te metam a um canto ou te empurrem contra a parede.
«O resultado eleitoral do Brexit [ganhou o “sim”] foi, para mim, um dia muito triste»