Germano sem Luz
Étalvez a minha mais antiga memória do futebol. Em Maio de 65, recordo Germano a tomar o lugar de Costa Pereira, na defesa das redes do Benfica, numa altura em que as substituições ainda estavam interditadas, numa final europeia, frente ao Inter de Milão, que o meu ídolo Eusébio e os seus companheiros não corresponderam, em solo transalpino, ao sonho de vitória e consagração. Foi na minhota Ponte da Barca, numa sala a transbordar de gente excitada com a ocasião, tão poucos eram os aparelhos de televisão, na severidade da penúria fascista.
Quatro anos volvidos, quis o destino que entrasse de mão dada com Germano no lendário circuito automóvel de Vila do Conde, era ele treinador do Varzim. Foi o acaso que nos juntou. Identifiquei-o, tratei-o pelo nome, devo ter sido tão persuasivo que o convite para o acompanhar foi imediato, algo que me fez corar até às orelhas de emoção incontida. Germano terá sido o melhor defesa-central português de sempre. Verdade que na equação podem entrar Félix, Humberto Coelho, Ricardo Carvalho. Talvez outros, mas não muitos. Mais tarde, já com profunda ligação ao Benfica, jamais o consegui convencer a ir à Luz. Nunca me divulgou a razão, nem quando me pediu quatro bilhetes para a inauguração do atual anfiteatro. Eram destinados a amigos próximos, não àquele que também foi, provavelmente, o futebolista mais culto da década de 60 em Portugal.
Homenageado há dias, na sua Alcântara popular, lembro os múltiplos convívios que protagonizámos, mas nunca, a seu pedido, no Estádio da Luz. Do Benfica falava-me com intérmina paixão, presumo-o alguma vez desconsiderado, gesto que nunca perdoou. E no canto mais bonito do meu arquivo fotográfico, de forma reverencial, guardo um retrato com ele, poucos dias antes de se despedir da vida.