Destak

Quase tudo perdido...

- JOAQUIM A. MOURA Penafiel

Com certeza que há muita gente que enaltece o 25 de Abril de 1974, animado num floreado encravado de vermelho. Com certeza que têm muitas razões para contentame­nto e sentirem-se ainda hoje em festa.

Mas com certeza que há outros muitos que sentir-se-ão frustrados com a caminhada que esse Abril os obrigou a calcorrear. A Revolução, dita de libertação, provou-nos até hoje que serviu para enriquecer ainda mais os ricos e agravar as condições dos pobres, e até juntarlhes os remediados que existiam na véspera e nos dias seguintes ao acontecime­nto naquela data.

Os pobres não sentiam a angústia de hoje, nem o desespero em que vivem actualment­e. Adormeciam numa pobreza consentida e acordavam num quadro de exigências aceites como naturais, mas sem a revolta que hoje os assalta. O 25 de Abril, foi bom para o surgimento do oportunism­o e enriquecim­ento ilícito, e muito reles para os que estavam e continuara­m de fora das vantagens impossívei­s de se lhe chegar.

É certo que os que andavam descalços hoje trazem os pés mais protegidos, e os rotos não vestem Prada, mas trajam uma roupita dentro do padrão que a feira e a carteira permite. Hoje ainda há os contentore­s para recolha de roupa usada e distribuiç­ão de comida aos famintos, com espalhafat­o reportado.

Porém as dificuldad­es são, na actualidad­e, mais insuportáv­eis que as sentidas “no tempo da outra senhora”. É verdade que o analfabeti­smo diminuiu, mas a ignorância mantém-se e dói mais. (...)

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