Quase tudo perdido...
Com certeza que há muita gente que enaltece o 25 de Abril de 1974, animado num floreado encravado de vermelho. Com certeza que têm muitas razões para contentamento e sentirem-se ainda hoje em festa.
Mas com certeza que há outros muitos que sentir-se-ão frustrados com a caminhada que esse Abril os obrigou a calcorrear. A Revolução, dita de libertação, provou-nos até hoje que serviu para enriquecer ainda mais os ricos e agravar as condições dos pobres, e até juntarlhes os remediados que existiam na véspera e nos dias seguintes ao acontecimento naquela data.
Os pobres não sentiam a angústia de hoje, nem o desespero em que vivem actualmente. Adormeciam numa pobreza consentida e acordavam num quadro de exigências aceites como naturais, mas sem a revolta que hoje os assalta. O 25 de Abril, foi bom para o surgimento do oportunismo e enriquecimento ilícito, e muito reles para os que estavam e continuaram de fora das vantagens impossíveis de se lhe chegar.
É certo que os que andavam descalços hoje trazem os pés mais protegidos, e os rotos não vestem Prada, mas trajam uma roupita dentro do padrão que a feira e a carteira permite. Hoje ainda há os contentores para recolha de roupa usada e distribuição de comida aos famintos, com espalhafato reportado.
Porém as dificuldades são, na actualidade, mais insuportáveis que as sentidas “no tempo da outra senhora”. É verdade que o analfabetismo diminuiu, mas a ignorância mantém-se e dói mais. (...)