Viva o Jaime Pacheco
Ele foi jogador do FC Porto e do Sporting. Ele foi treinador do Boavista. Ele ama a bola como poucos, talvez como mais ninguém. Temos uma relação de há muitos anos, uma relação sem preconceitos, uma relação de bem-querer. O Jaime Pacheco, que até era do Benfica na sua infância e na sua juventude, vibra com o futebol como não conheço igual. E, faça-se a justiça de reconhecer a estreita ligação que tenho à tribo, cruzando várias gerações, afinal uma das minhas mais imodestas dedicações, uma das minhas mais firmes consagrações. Até não apenas no universo Benfica, também noutros emblemas que emprestaram individualidades destacadas à causa doméstica da redonda.
O Jaime é diferente. Sublinho, com apreço, essa marca distintiva. Por que foi campeão no Boavista? Também, mas muito mais do que isso. Ele é o exemplo da insubmissão, da não vassalagem, do não alpinismo, das não comadrices. Ele não é dos mexericos, das insignificâncias, das pouquidades.
Frontal, categórico, impreterível. Até foi campeão no Egito e tem prestigiado Portugal em diferentes paragens. Já como jogador, vencedor nacional múltiplo e triunfador europeu pelo FC Porto, peça incontestável na Seleção Nacional no Euro 84 e no Mundial 86. Até proscrito no clube por Artur Jorge, haveria de ser reabilitado, pelo mesmo seleccionador, pouco depois, vestia as cores do Vitória de Setúbal, ainda que a caminho da veterania. Há dias, numa plateia de ilustres do futebol, disse aquilo que nunca ouvi publicamente. Foi um momento de coragem, de indocilidade. “Conhecem algum dirigente desportivo que esteja mais pobre do que quando entrou ou saiu de um clube?”. Está, porventura, explicado. A frontalidade tem custos, muitos custos. A honestidade tem custos, muitos custos. Mas nada vale mais do que a seriedade.