Mundial coxo
Gosto de Lobo Antunes e de Manuel Alegre. Gosto de Siza Vieira e de Souto Moura. Também gosto de Paulo de Carvalho e de Carlos do Carmo. Gosto ainda de Herman José e de Ricardo Araújo Pereira.
Gosto de Pedro e de Inês. Gosto de Tristão e de Isolda. Também gosto de Romeu e de Julieta. Gosto ainda de Adão e de Eva. Gosto de Astérix e de Obélix. Gosto de Tarzan e de Jane. Também gosto do Dupont e do Dupont. Gosto ainda do Bucha e do Estica.
Gosto (tanto) do Cristiano Ronaldo e gosto (muito) do Messi. Gosto das suas presenças, irritam-me as suas ausências. São ou não são, de há vários anos a esta parte, as duas maiores figuras da bola planetária? São e ainda serão durante mais algum tempo. Constituem uma dupla que disparte mimos aos adeptos da bola janota.
Já se despediram do Mundial da Rússia, à giza de sacrilégio, de impiedade, de blasfémia. Como é possível? Mas é, mas foi. No futebol moderno, cada vez mais as grandes individualidades podem ter um papel decisório, só que jamais conseguem contrariar formações bem formatadas e não menos competentes. O nosso Cristiano Ronaldo esbarrou numa muralha uruguaia, expressão maior (e melhor) da organização e da disposição. Messi esbarrou numa teia francesa, expressão maior (e melhor) da eficiência e da inteligência.
Perdeu-se a dupla magnífica numa fase precoce do certame. O cartaz ficou mais pobre, menos apelativo. Doravante, vai ser tudo menos desigual, menos sedutor. Para os aficionados, mais do que a despedida de Portugal e da Argentina, contam as despedidas de Cristiano Ronaldo e de Messi. A bola não tem coração. Desperdiçou os dois maiores talentos, o dueto mais genial da contemporaneidade. O futebol foi espancado na sua animação de vivacidade individual. Venceu o coletivo, falhou a oração aos dois deuses da redonda.