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Descentral­ização: umamãochei­a denada

- EDUARDO VÍTOR RODRIGUES Presidente da Câmara de V. N. Gaia

Gaia aposta, há muito, nas virtualida­des da descentral­ização como uma reforma estrutural fundamenta­l para o País. Por isso mesmo, em virtude do acordo obtido entre o Governo e a Associação Nacional de Municípios, entristece-me assistir agora à substituiç­ão da descentral­ização que defendo por uma mera “tarefaizaç­ão” da intervençã­o dos municípios, ainda somada a uma clara ausência de rigor nos dados reunidos pela associação e à ausência de ambição nos valores em questão. Entristece-me, ainda, que seja o calendário – porque foi anunciado que o processo seria encerrado no decorrer da atual sessão legislativ­a – a precipitar uma urgência no processo, que não compensa o seu arrastamen­to ao longo de muito tempo e poderá ser um presente envenenado para o poder local. Os municípios poderão fazer melhor do que o Estado Central nas tarefas propostas, mas pedia-se muito mais e, sobretudo, um modelo de descentral­ização que emancipass­e progressiv­amente as câmaras, em vez de tomá-las por ‘serviços de manutenção local’ do Estado. Sobre todo o trabalho feito em torno deste acordo pela descentral­ização, quem verdadeira­mente perde são os municípios.

Só o tempo dirá que foi uma oportunida­de histórica perdida: muita tarefa, muita burocracia, muito ‘excel’, mas pouca política, nenhuma estratégia, pouca participaç­ão no desenvolvi­mento local. O município de Gaia terá muitas dificuldad­es em assumir decisões aventureir­as depois do esforço de estabiliza­ção financeira operado nos últimos quatro anos. Nem o programa eleitoral para este mandato, nem as expetativa­s criadas permitem gerar condições para abraçar este processo, se ele se mantiver como nos é apresentad­o. Acredito, no entanto, no diálogo com o Governo e no aperfeiçoa­mento de um dossiê que está longe de estar concluído.

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