«África continua a ser um continente de inultrapassável riqueza intelectual e física»
chamada telefónica logo de manhã. Não estou a brincar. Recebi um telefonema de manhã bem cedo. Eram umas 7 da manhã! Até pensei que me estavam a pregar uma partida. Só podia ser uma piada de mau gosto. Na minha vida nunca tinha recebido um telefonema tão cedo com tão boas notícias. Foi como se me estivessem a pedir que fizesse parte da história do cinema. Por isso, a minha missão impossível está aqui à vista de toda a gente: consegui fazer parte destas grandes aventuras.
Imagina-se contratada pelos serviços secretos? A seu ver, foi talhada para servir de operacional nos terrenos mais traiçoeiros?
Agente secreta? Nunca. Fico sempre com a impressão de que toda a gente consegue ler na minha cara aquilo que se passa, mesmo que eu só esteja a jogar póquer.
Gosto, no seu percurso profissional, que tenha sempre recusado os rótulos. Mantém-se seletiva. Nunca se sabe o que esperar de si. Partilhe as suas ideias: acha que África poderia ser ainda maior e mais bela se não tivesse sido explorada e depauperada por aqueles específicos poderes coloniais?
Sim, acho que a grande Nação de África seria ainda mais poderosa e inspiradora se não tivesse sido despojada daquilo que é seu por natureza. Acho isso perfeitamente plausível, em absoluto. Repare que antes da colonização a grande nação africana era feita de grandes impérios como aqueles onde hoje está o Mali e o Benim. Foi nessa época, no tempo dos grandes impérios africanos, que foram exaustivamente concebidas e construídas as primeiras grandes bibliotecas. África continua a ser um continente de inultrapassável riqueza intelectual e física.
Voltando ao filme: o Tom Cruise é mesmo a pessoa que vemos no ecrã? É verdade que, depois de ele ter partido o pé nas filmagens, os médicos pediram-lhe uma pausa de 6 meses mas 3 meses depois já ele estava a correr desalmado pelas ruas de Londres? Reparou se bebia uma poção mágica entre as cenas? Que juventude imparável…
O Tom não é pessoa para recusar um bom desafio. Se o médico pedia 6 meses, claro que o Tom ficou determinado a provar quem é que estava realmente a controlar estas coisas da ressurreição física.
Que mais o impressionou nele, como trabalhador mas também como motor e espírito de toda esta linhagem de filmes?
Tornaram-se evidentes várias coisas. Sim, é normal uma pessoa ficar absolutamente impressionada com o nível de entusiasmo que ele exibe. É normal uma pessoa sentir-se surpreendida perante tanta determinação, vigor e experiência. A maioria dos atores mais novos – e aqui estou a referir-me tanto a atores como atrizes – não fazem a mínima ideia da quantidade de trabalho que é preciso concretizar num empreendimento deste género. Não fazem ideia do esforço necessário, nem sabem que essa entrega pessoal é totalmente razoável, requerida e desejável. Mas o Tom sabe. Está consciente disso. Tem todas aquelas qualidades. Ora bem, esse é o tipo de raciocínio e comportamento que, qualquer que seja a plataforma, eu admiro sem reservas. É esse tipo de colega de trabalho que procuro quando aceito um emprego. Porquê? Porque, ao fim do dia de trabalho, sinto que aprendi e recebi algo em troca.
Numa aventura com esta estirpe aparecem sempre paisagens lindas, locais de grande drama visual. Qual foi o momento que mais lhe cortou a respiração?
Bom, desde logo devo dizer que as cenas na Nova Zelândia, onde era inverno quando filmámos em junho, paralisaram-me de frio. Ficamos metidos num local que me parecia ser um igloo. Uma tenda. Uma barraca. Algo. Muito frio. Para mim, a cena mais bonita e espetacular foi filmada em Paris. É aquela cena no Trocadéro, quando tenho a torre Eiffel à minha frente. Ah, que visão espantosa. Por vezes basta ter sorte.
Falemos da idade. Como é que se mantém assim tão bonita e escultural?
Uma pessoa nasce, ou não, com as componentes certas.
Portanto, é um dom da genética?
Diria que sim.
«O Tom não é pessoa para recusar um bom desafio [...] É o tipo de colega de trabalho que procuro»