«Sempre fui um bocado acriançado»
Ewan Mcgregor não é um ator qualquer: encarnou o icónico Mark Renton de “Trainspotting” e deu vida a Obi-wan Kenobi enquanto jovem adulto. Agora, regessa à infância com “Christopher Robin”, filme que estreia a 18 de outubro.
Não falemos das atribulações do coração a que o nosso querido Ewan se meteu recentemente – o senhor é adulto, é pai de quatro filhas com idades entre os 22 e os 7 anos de idade, é pessoa madura que sabe o que faz. Em vez disso centremos os olhos, a mente, as vibrações afrodisíacaseaadmiraçãototalnoartistamaravilhoso de cinema em que se transformou. Depois de ter aparecido no filme de culto Trainspotting, Ewan Mcgregor tem conseguido unir-se apenas aos melhores graças à sua figura tangível, reativa, humana e frágil. Da sagastarwarsácolaboraçãocomroman Polanski, o rapaz escocês é dos poucos que consegue saltitar entre filme de grande plateia e peça séria considerada propriedade intelectual. O seu mais novo repasto dramático, uma história querida sobre o criador do urso Winnie the Pooh, exibe o rapaz nas cores luminosas da fantasia real.
O filme levanta a questão delicada da memória, da infância, e pergunta se não seria melhor dizermos adeus a certas partes do passado. No seu caso, que áreas da sua infância continuam bem cuidadas e regadas todas os dias? Faz questão de alimentar regularmente que partes da sua vida e que sonhos inocentes?
A figura a que regresso sempre é a do meu pai. Penso frequentemente nele e na relação que ele próprio mantinha com o pai dele. Não dou comigo a pensar muito na minha mãe. Mas o meu pai veio-me à cabeça com regularidade. Não sei bem porquê. Acho que o meu pai nasceu em 1941 e a Madeline deste filme, a personagem da filha neste filme, talvez tenha nascido por volta dessa altura. Depois, o Christopher parte para a guerra e, quando regressa, a filha já tem 7 anos de idade e nota-se que entre eles há uma nova distância e mais fricção. O Christopher não tem uma relação de gran- de proximidade com ela, não se apercebe disso, não lhe presta grande atenção, não quer saber. Naquele tempo, creio, os cavalheiros não tinham uma relação chegada com os filhos. Não era como agora. Durante essas cenas o realizador estava sempre a pedir-me que me contivesse mais, talvez porque o meu instinto me dizia para ser muito mais afetuoso com a menina que faz de minha filha. Foi aí que pensei muito no meu pai. Deve ter sido terrivelmente difícil não poder aceder a um pai que mostrasse carinho e afeto.
E como é que mantem uma ligação saudável com a infância?
Tenho conseguido manter uma ligação à infância através de várias coisas, sejam elas as motos que gosto de comprar e guiar, as bicicletas, as aventuras e, até, a música. Por vezes, quando as pessoas falam de um fimde-semana que se aproxima, referem a ideia de que vai ser bom não fazer nada. Mas a verdade está mais do lado do Pooh, quando ele diz no filme que a melhor coisa de não fazer nada é que, geralmente, dá origem ao melhor qualquer-coisa que jamais existiu. Eu sou um bocadinho assim, nos dias de folga ou durante os fins-de-semana, nas férias. Nesse sentido sempre fui um bocado acriançado. Dou comigo ocupado com coisas que me fazem sentir jovem.
Como descreveria a sua infância?
Muito semelhante à do Christopher Robin. Nasci numa cidadezinha da Escócia, Crieff. Aos 9 anos apaixoneime por cavalos e por equitação. Era naquela grande área densamente arborizada que estavam os estábulos – onde eu trabalhava para poder ter acesso a passeios de cavalo de graça.
«Penso frequentemente [no meu pai] e na relação que ele mantinha com o pai dele»