Destak

... E o resto é paisagem

- JOSÉ LUÍS SEIXAS Advogado

Falamos da proposta da redução do tarifário dos transporte­s urbanos das aérea metropolit­anas de Lisboa e, ao que parece, do Porto, a ser suportada pelo Orçamento do Estado. Ou seja, por todos os cidadãos. Já fui Presidente da Assembleia Municipal de Bragança e, mais tarde, Vereador da Câmara de Lisboa. Assumi o argumentár­io dos custos da interiorid­ade que vi replicados no discurso dos custos da capitalida­de. Percebi o perigo da realidade dicotómica do País, a tragédia da assimetria regional e da falta de ordenament­o do território. Fizeram-se Livros Brancos e colóquios sem fim. Chegou-se ao referendo. Confundiu-se descentral­ização, regionaliz­ação e regionalis­mo. O povo vislumbrou novos poderes, influência­s e cargos. E a discussão inquinou-se. Houve um luto à volta do tema. Tudo quedou silente e nada se preveniu. Chegaram os fundos comunitári­os, os grandes projectos de fachada e o País extasiou-se. Recordo-me do entusiasmo juvenil com a construção da IP4 e de alguém me avisar – o que na altura considerei herético – que grandes vias rodoviária­s em zonas assimétric­as servem para sair e nunca para entrar! No final da década de 80 já não havia ferrovia e ainda nascia uma insipiente rodovia. O País inclinou-se ainda mais para o mar. Volvidas tantas décadas temos cidades do interior recomposta­s e bem tratadas. Muitas, exemplos de desenvolvi­mento sustentado. Inovaram e refizeram-se contra um Estado que lhes foi retirando serviços médicos, tribunais, CTT, CGD. Porque havia pouca gente. E menos gente passou a haver. Não é Lisboa que alimenta o interior. Ao contrário é o interior que trabalha para Lisboa e Porto. Porque são menos, porque o custo do centralism­o é desproporc­ional ao custo de um interior crescentem­ente sacrificad­o! Não venham, pois, com tretas. O meu Nordeste Transmonta­no ainda vive e produz à custa da coragem dos que ficaram pagando impostos para do Estado só receberem discursos e saudações.

O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia

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