... E o resto é paisagem
Falamos da proposta da redução do tarifário dos transportes urbanos das aérea metropolitanas de Lisboa e, ao que parece, do Porto, a ser suportada pelo Orçamento do Estado. Ou seja, por todos os cidadãos. Já fui Presidente da Assembleia Municipal de Bragança e, mais tarde, Vereador da Câmara de Lisboa. Assumi o argumentário dos custos da interioridade que vi replicados no discurso dos custos da capitalidade. Percebi o perigo da realidade dicotómica do País, a tragédia da assimetria regional e da falta de ordenamento do território. Fizeram-se Livros Brancos e colóquios sem fim. Chegou-se ao referendo. Confundiu-se descentralização, regionalização e regionalismo. O povo vislumbrou novos poderes, influências e cargos. E a discussão inquinou-se. Houve um luto à volta do tema. Tudo quedou silente e nada se preveniu. Chegaram os fundos comunitários, os grandes projectos de fachada e o País extasiou-se. Recordo-me do entusiasmo juvenil com a construção da IP4 e de alguém me avisar – o que na altura considerei herético – que grandes vias rodoviárias em zonas assimétricas servem para sair e nunca para entrar! No final da década de 80 já não havia ferrovia e ainda nascia uma insipiente rodovia. O País inclinou-se ainda mais para o mar. Volvidas tantas décadas temos cidades do interior recompostas e bem tratadas. Muitas, exemplos de desenvolvimento sustentado. Inovaram e refizeram-se contra um Estado que lhes foi retirando serviços médicos, tribunais, CTT, CGD. Porque havia pouca gente. E menos gente passou a haver. Não é Lisboa que alimenta o interior. Ao contrário é o interior que trabalha para Lisboa e Porto. Porque são menos, porque o custo do centralismo é desproporcional ao custo de um interior crescentemente sacrificado! Não venham, pois, com tretas. O meu Nordeste Transmontano ainda vive e produz à custa da coragem dos que ficaram pagando impostos para do Estado só receberem discursos e saudações.
O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia