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Férias de verão

- JOSÉ AMARAL Vila Nova de Gaia

A maior parte dos portuguese­s, não gozam férias. Não porque não as desejam, mas apenas por impossibil­idade de reunir as condições que permitem tê-las.

Podem fazer de conta que beneficiam de tempos livres e calmos. Encher os dias vazios, com feriados e festas. Mas soa-lhes e sentem-nos sempre como feridas difíceis de aceitar e curar.

Sombras não lhes faltam.

A da árvore do jardim, que aguenta o pássaro, sacode o vento e faz gemer o banco aonde repousam o sono e o olhar. Espreitam por entre as folhas e as ripas da vida, as farpas do salário roto com cheiro a mofo, de tão velho, que prendem no bolso da camisa gasta.

Os dias com sol de alegria e de prazer, ficam longe. Aqui não chega o pó da areia brilhante e do sal. Estão para além do sonho e do mar. São dias feitos de tempo, caros, e doutras paragens com paisagens de pintor. Para lá chegar-lhes, é sempre preciso mais do que vontade e génio. É necessário, saúde e uma conta aberta que o trabalho incerto, e mal pago, não permitiu pela vida fora uma poupança, capaz de dela tirar agora, alguma felicidade.

Hoje os dias são de sombra com uma luz entrecorta­da pelas folhas, quando abanam sobre as nossas cabeças, carregadas de pensamento­s desiludido­s. Aqui sentados, só nos resta ver passar os que partem esbranquiç­ados, a substituir os que chegam bronzeados. Ainda há os comboios sonolentos que restam.

Erguendo o olhar podemos ter a sorte de ver um avião, a riscar o céu, deixando um rasto de fumo branco, que se apaga como o nosso desejo, ao fim de pouco

Mas, sem sermos defesa do diabo, a culpa também é – e muito – dos utilizador­es das viaturas postas à disposição de qualquer utilizador, o qual por vezes é mais boçal na sua utilização do que o nossos antepassad­o homem das cavernas.

E mais adiantamos: tais boçais utilizador­es estão-se marimbando pelo aqueciment­o global, bem como com o custo dos combustíve­is. Entram na sua maquineta e zás, prego a fundo, sem se importarem com mais nada.

Tais anormais não sabem que a partir das duas mil rotações do motor o consumo dispara para altos consumos.

A grande maioria dos utilizador­es nem sequer tem categoria para dirigir um simples carro de bois.

Assim, não mais escrevemos, porque quem também igual faz não lê estas linhas.

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