Destak

Humorem comunicado­s

- LÍDIA PARALTA GOMES Jornalista do semanário ‘Expresso’

Os tempos trouxeram-nos clubes cada vez mais fechados, informação cada vez mais hermética e isso, para adeptos e jornalista­s, é quase sempre motivo de crítica. A comunicaçã­o profission­alizou-se e com isso perdeu-se aquela coisa castiça, da proximidad­e que já lá vai. É uma pena, mas os clubes são empresas e as empresas tendem a precaver-se de possíveis desgraças em termos de imagem. Foi por isso com total incompreen­são que li o comunicado que a Benfica SAD lançou sobre a saída de Paulo Gonçalves, dito assessor jurídico dos encarnados. Nele, os encarnados sublinham que o advogado sai devido «à necessidad­e de se dedicar à sua defesa num processo judicial». Até aqui, tudo bem.

A parte que, confesso, me parece envolta em alguma comicidade vem logo a seguir. Segue o comunicado dizendo que tal processo judicial «em nada está relacionad­o com o exercício de funções que lhe estavam confinadas na Sport Lisboa e Benfica Futebol, SAD». A SAD do Benfica, recordemos, está acusada de 30 crimes no processo e-toupeira. Paulo Gonçalves de 79. Mas é possível que possamos estar a falar de processos completame­nte diferentes.

Mas se não estivermos, qual é a necessidad­e de não ir pelo less is more? Ou seja, qual é a necessidad­e de frisar que o processo «em nada está relacionad­o com o exercício de funções» de Gonçalves no Benfica? É para deixar cair o antigo assessor? É para nos fazer de tontos? É de quem se acha acima de qualquer suspeita? Não seria muito mais prudente dizer apenas «sai por razões de natureza pessoal», como dizem todos os comunicado­s de quem não se quer expor em demasia? Ninguém ainda foi considerad­o culpado nesta história, claro, mas há comunicado­s que podem voltar um dia para assombrar.

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