Humorem comunicados
Os tempos trouxeram-nos clubes cada vez mais fechados, informação cada vez mais hermética e isso, para adeptos e jornalistas, é quase sempre motivo de crítica. A comunicação profissionalizou-se e com isso perdeu-se aquela coisa castiça, da proximidade que já lá vai. É uma pena, mas os clubes são empresas e as empresas tendem a precaver-se de possíveis desgraças em termos de imagem. Foi por isso com total incompreensão que li o comunicado que a Benfica SAD lançou sobre a saída de Paulo Gonçalves, dito assessor jurídico dos encarnados. Nele, os encarnados sublinham que o advogado sai devido «à necessidade de se dedicar à sua defesa num processo judicial». Até aqui, tudo bem.
A parte que, confesso, me parece envolta em alguma comicidade vem logo a seguir. Segue o comunicado dizendo que tal processo judicial «em nada está relacionado com o exercício de funções que lhe estavam confinadas na Sport Lisboa e Benfica Futebol, SAD». A SAD do Benfica, recordemos, está acusada de 30 crimes no processo e-toupeira. Paulo Gonçalves de 79. Mas é possível que possamos estar a falar de processos completamente diferentes.
Mas se não estivermos, qual é a necessidade de não ir pelo less is more? Ou seja, qual é a necessidade de frisar que o processo «em nada está relacionado com o exercício de funções» de Gonçalves no Benfica? É para deixar cair o antigo assessor? É para nos fazer de tontos? É de quem se acha acima de qualquer suspeita? Não seria muito mais prudente dizer apenas «sai por razões de natureza pessoal», como dizem todos os comunicados de quem não se quer expor em demasia? Ninguém ainda foi considerado culpado nesta história, claro, mas há comunicados que podem voltar um dia para assombrar.