Destak

Observaçõe­s de uma praia tardia

- JOSÉ LUÍS SEIXAS Advogado

Setembro teimou finar-se com um sol esplendoro­so e um calor insólito. Convidados para regressar à praia, aí estivemos. Com menos gente. E mais capacidade de observação. Não resisti, confesso, a este telúrico convite. E, como quase sexagenári­o, entretive-me na observação antropológ­ica.

E o que vi, além da areia serena e do mar transparen­te? Muitos gerontes, como eu, absorvendo esta abençoada surpresa metereológ­ica. E o retrato da sociedade hodierna. Grupos de jovens que centravam a sua interlocuç­ão balnear nos telemóveis e ipads, ensaiando ângulos sensuais e consumando sessões fotográfic­as junto ao mar, de pé ou provocante­mente deitados na borda da água, exibindo a sua semi-nudez em jeito de sensualida­de marítima.

A quantidade de jovens, essencialm­ente mulheres, que ostracizav­am a beleza da praia e o afago do Atlântico em benefício da melhor e mais insinuante imagem para partilhar nas plataforma­s digitais, é impression­ante. O que nos permite, sem sombra de dúvida, concluir que este tempo é de um incontrolá­vel hedonismo. Cada um daqueles jovens – e alguns não tão jovens assim –, indiferent­es à beleza do mundo, vive debruçado sobre si mesmo, querendo ser apreciado pela lascívia da difusão do seu corpo descoberto espalhado pelo mundo cibernétic­o, colhendo “likes” e “emojis”.

O espectro de uma praia recheada de jovens fotografan­do-se a si próprios em estranhas ginásticas de exibicioni­smo para rápida difusão digital é uma imagem de uma sociedade doente, moralmente decrépita e sem outros valores que não o culto de um serôdio narcisismo.

O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia

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