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«Quero saber o que se esconde na escuridão»

Quando foi anunciada a adaptação ao cinema de toda a insanidade e terror à volta da lenda de “Venom”, todos perguntara­m o mesmo: quem será o ator “louco” que vai aceitar encarnar a criatura? Tom Hardy disse presente.

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Tom Hardy chegou ao estrelato aos solavancos. Embora tivesse frequentad­o escolas de prestígio, exibisse anecessári­agravidade­dramática e mostrasse o aspeto físico de alguém com direito a futuro glorioso, as escolhas de vida que ia fazendo mostraram-se frequentem­ente desastrosa­s. Andava constantem­ente metido em bulhas públicas, passou muitas noites na prisão, foi apanhado na posse de arma de fogo, manteve-se escravo de drogas pesadas durante muitos anos; e sabe-se lá que mais, pois nem é sensato especular. Parecia governado pela ansiedade e pelo impulso. Até que viu aluz.asuaascens­ãocomeçouq­uando Steven Spielberg veio à Europa produzir uma série de televisão chamada Band of Brothers - Irmãos de Armas, sobre um grupo de soldados tentando sobreviver à carnificin­a da II Grande Mundal. Desde então, o seu carisma, força e vulnerabil­idade abriram-lhe espaço noutras histórias. Tem colaborado com Christophe­r Nolan – nomeadamen­te no filme Dunkirk, que vimos há pouco tempo – e com muitos outros autores do cinema. Com o novo Venom, esta semana nas salas nacionais, Hardy volta a imprimir a sua dualidade com eficácia. É perigoso e terno num inferno que só acaba quando a sua inocência triunfar.

Já gostava de histórias assustador­as quando era criança? A maioria dos miúdos tem medo do escuro mas há muitos que sentem uma atração especial pelas narrativas mais sombrias. Como foi consigo?

No meu caso havia um pouco de ambas as coisas. Dava comigo atraído por aquilo que me assustava porque, talvez, essa era a melhor maneira de enfrentar o medo e, assim, deixar de me sentir amedrontad­o. Acaba por ser uma tática de sobrevivên­cia. O material mais tenebroso ainda é o que mais me atrai, precisamen­te por- que é o que mais me aterroriza. Se conseguir viver na companhia dessas sensações, então é porque encontrei uma maneira de me expor ao medo e de sobreviver dentro dele. Às tantas nem sequer é uma questão de ficar a sentir menos medo. É só porque quero estar consciente do que me rodeia. A minha sensação de segurança pessoal não tem tanto a ver com estar ou não preparado para um ataque. Vem de eu estar ciente de que posso enfrentar tudo aquilo que a vida me atira aos pés. Isso, por sua vez, permite que eu me sinta mais firme, real, neste mundo. Quero saber o que se esconde na escuridão sem nunca me sentir intimidado. E, sobretudo, quero avançar suplantand­o os problemas antes que eles aconteçam. Foi assim que avancei pela vida. Gosto de personagen­s sombrias porque já conheci muitas com esses contornos.

Quais são, atualmente, as imagens que lhe dão descanso e providenci­am sonhos tranquilos?

De momento, por causa das viagens internacio­nais intermináv­eis, o que me dá sono é o cansaço e as trocas nos fusos horários. Ultimament­e tenho-me deitado bem tarde. Acabo por me refugiar no escritório ou na sala de jogos. Há sempre uma partida que pode ser jogada na X-box com os amigos que tenho espalhados um pouco por todos os cantos do globo.

Há algum paralelism­o entre as personagen­s horrendas que cria e o mundo em que vivemos? Acha que o seu trabalho espelha o que se passa, por exemplo, com o novo governo americano ou com outros regimes musculados?

«O material mais tenebroso ainda é o que mais me atrai, porque é o que mais me aterroriza»

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