Destak

«Note que a Ally não tem ambição quando a conhecemos. Está deprimida. Não crê em si mesma»

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«Deus do céu, Bradley, tens uma voz incrível!». Percebe-se que é uma voz que vem do fundo da alma, algo que surge cá de dentro, do néctar daquilo que uma pessoa é. Foi um momento que me encheu de inspiração porque percebi que ele era o único ator que podia fazer de estrela do rock. Não tive dúvida. Estava 100% garantido. Foi por isso que fizemos este filme. Eu acreditei inteiramen­te nele e ele acreditou completame­nte em mim.

Chegou a pensar neste filme como patamar que lhe daria acesso a outra magnitude de sucesso, o da estrela de cinema?

Não se tratou, a meu ver, de um dilema carreirist­a. Nada disso.

Foi uma questão de me ter aparecido o projeto artístico certo.

Sem desvendar os momentos de simbiose musical que vemos ao longo do filme, fale-me daquela cena logo no início, quando canta o La Vie en Rose. Já era fã da canção imortaliza­da pela grande Édith Piaf? Que perigo, isso de ir remexer nos clássicos, não?

Desta vez havia uma grande diferença. Já cantei o La Vie en Rose muitíssima­s vezes com o Tony Bennett. Mas, quando me vejo a cantar o La Vie e Rose com o Tony, sou eu a cantar, logo vai ser feito à minha maneira. No filme o grande desafio iria ser o de cantar a canção como se eu fosse a Ally, a personagem. Ali a situação é outra. Estamos a falar de uma moça que canta no bar da esquina. Uma vez por semana. Se tanto. Ou seja, tive que me mentalizar que a minha carreira acontecia num bar de Nova Iorque localizado algures no Lower East Side. Note que a Ally não tem ambição nenhuma quando, primeiro, a conhecemos. Está deprimida. Não crê em si mesma. É o tipo de mulher que desistiu da pessoa que sonhara ser. Só o amor que ele sente por ela vai poder dar-lhe uma vida nova.

A carreira da Ally sofre logo várias facadas no coração, quando o patronato lhe pede que mude a imagem ou passe a ser uma versão menos autêntica do que é. No seu caso, como conseguiu proteger o seu lado genuíno num mundo vergado ao mercado?

Acredite: esta história também aconteceu comigo. Houve quem sugerisse que eu fizesse uma rinoplasti­a antes minhas coisas seriam feitas de uma só maneira. Fiz questão de dizer essas mesmas coisas da maneira que me apetecia dizê-las. Estava constantem­ente a desafiar as normas que regem esta ideia de como as mulheres devem aparecer num palco de música pop.

Depois de tantas mudanças de visual ao longo dos anos, depois de tanta experiênci­a na arte, suponho que agora possa descansar. Não tem mais nada a provar, pois não?

O meu trabalho ainda não está feito. Só agora comecei a mostrar quem sou.

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