Destak

«O processo de envelhecim­ento no cinema não é igual aos outros. Não é igual ao do teatro, por exemplo»

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em que o objeto muda. No meu caso, acho que daqui para a frente só vou fazer de avó maluca que diz as coisas mais ofensivas e desproposi­tadas à hora do jantar. Não creio que o público vá querer olhar de perto para a minha pele quando eu tiver 70 anos de idade.

Mas, por enquanto, deve ser a mãe mais divertida de sempre. Como é que os seus filhos avaliam a situação?

Suponho que os meus filhos encontram algumas vantagens em eu ser assim como sou, mexida, divertida. Mas também acredito que se sentem muitas vezes envergonha­dos e com vontade de se meterem por um buraco adentro. Gostariam que eu fosse mais sossegada. O que eu sou é agradável, amistosa, fácil de abordar. A minha irmã diz que, quando me comporto assim em público, estou a fazer mais amigos.

Não estou a ver bem. Dê-me exemplos concretos, por favor. Qual o tipo de circunstân­cia em que se excede na sua amabilidad­e típica?

O que acontece é isto: se entro num elevador cheio de gente, ao fim da viagem há certas coisas que vão acontecer de certeza. Eu vou, sem falta, meter conversa e dar beijinhos a uns quantos e, claro, organizar um abraço gigante com toda a gente. Mas não me fico por aí. Vamos a meio do percurso e eu já organizei a coisa por grupos. Sim, porque há elevadores que se avariam, param a meio e se transforma­m em experiênci­as de sobrevivên­cia. É para isso que eu lá estou. Organizo logo qual é o grupo que vai ficar encarregue de racionar os recursos nutritivos, em que saco das compras é que as pessoas vão poder fazer xixi, em que carteira de senhora é que se vai poder fazer cocó. É bom estar bem preparado. Nunca se sabe quando é que um gesto simples de tomar o elevador se transforma num suplício que pode durar três semanas.

Como é que os filhos reagem a situações desse tipo?

Olham logo para mim e dizem com os olhos ebm abertos: “Por favor, não!”. É isso. Acho que ficam um bocado mortos de vergonha com os meus impulsos de amizade. Mas nem é preciso dizer que, quando saímos finalmente do elevador, eles rodeiam-me logo com abraços e querem toda só para eles. Sou divertida? Caraças, sou mesmo! Mas isso deve-se a algo simples: sou Lauperina. Sigo ávida e religiosam­ente a filosofia da Cyndi Lauper quando canta que só quer divertir-se. A ideia é encontrar muitas formas de divertimen­to antes de pas-

«Sou Lauperina. Sigo ávida e religiosam­ente a filosofia da Cyndi Lauper quando canta que só quer divertir-se»

sar desta para melhor. Para isso, que maneira melhor do que incluir os meus filhos? Mas não fique a pensar que sou apenas isso. Também tenho a mania das limpezas. Não se imagina o nervoso que isso me traz. Ter filhos e ter a mania das limpezas não é fácil. Eles adoram estardalha­ço. Aliás, deixar tudo sujo e desarrumad­o parece ser a função deles. Não faz mal. É para isso que os jovens existem. Mas, para mim, torna-se difícil. Há sempre um equilíbrio precário quando queremos incutir brincadeir­a nas crianças e, ao mesmo tempo, manter obsessivam­ente tudo no lugar certo.

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