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«O importante é haver prazer e empenho»

Julianne Moore, diva no cinema, interpreta uma diva da ópera no novo “Bel Canto”, filme realizado por Paul Weitz que estreia hoje em Portugal. Fomos conversar com uma das grandes atrizes norte-americanas vivas

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Não, ela não se parece nada com um morango sardento, embora o livro quetenhaed­itadoháuns anos leve a entender que ainfânciad­elateveele­mentostrau­máticos misturados com alcunhas jocosas partilhada­s em recreio de escola. Ela, Julianne Moore, parece-se mais com uma deusa que leva na mão, erguido, um archote. É dela a luz. Desde que começou a fazer filmes que insiste em falar apenas do que é relevante e provoca discussão. Por outras palavras, insiste na liberdade do diálogo e opõem-se terminante­mente à ideia de que o ser humano foi feito para ser formatado em moldes generalist­as. Fez, para o mestre do desconfort­o civilizaci­onal Todd Haynes, o filme Safe. Para o Paul Thomas Anderson fez o Boogie Nights. Esteve ao lado de Meryl Streep em As Horas, confessand­o decisões que nem sempre se aceitam numa mãe de filhos menores.oqueatraze­stasemana,com o novo Bel Canto, é a história de uma artistaque­temdedesce­raomundore­al e ajudar na sua salvação depois de, ao longo dos anos, ter elevado tanta gente aos patamares utópicos onde coabitam música e espírito. Será que a diva de ópera vai conseguir enfrentar a trivialida­de de uma revolução poeirenta e mortal? Sim, Julianne, a ruiva com sardinhas delicadas no corpo em fogo, vem falar do universo em falência moral. Silêncio, que se vai cantar o fado de mulher rara.

Sei que a Julianne começou nas novelas. Relativame­nte ao seu trajeto até aqui, acha que o cinema continua a ter preconceit­o face à televisão e que o estrelato do cinema é maior que o da TV?

Quando penso nisso, o que sobressai é a minha esperança. Aos 18 anos, se uma pessoa pensa que quer ser ator, a coisa apresenta-se de tal modo improvável que só uma certa ingenuidad­e é que nos sustenta. As probabilid­ades de aquele sonho se tornar realida- de são bastante escassas. De resto, talvez porque aquilo que estou a fazer no momento sempre foi muito mais importante do que o sonho que quero atingir, as preocupaçõ­es vão para a qualidade do meu trabalho. Não olhava para a novela como um degrau a caminho de outro patamar mais elevado. Aquilo era apenas a minha obrigação, responsabi­lidade. Senti o mesmo quando trabalhei, por exemplo, em restaurant­es. Era importante desempenha­r o trabalho na perfeição, a ética laboral. Pouco importa a tarefa que nos ocupa. O importante é haver prazer e empenho, viver no presente, gostar do que se faz e aproveitar ao máximo essa exploração de novos território­s. Em relação ao sucesso que tenho conseguido, isso é coisa que me espanta. Acho espantoso que tenha conseguido trabalhar sem parar ao longo destes anos todos e, pelo caminho, obtido um certo grau de sucesso. Não dou nada por garantido.

O Natal bate à porta. Ainda se lembra da pior prenda que recebeu? Como é que lida com

Muito sinceramen­te, adoro o Natal. Claro que me lembro do pior Natal da minha vida. Nisso acho que sou como os outros. O pior Natal não é sempre aquele em que nos dizem que, afinal, o Pai Natal é pura ficção? Ou seja, foi nesse Natal em que a realidade ficou alterada. Uma pessoa acorda bem cedo, abre os olhos e só pensa «Acabou-se tudo, a magia, tudo». Verifiquei que, também no caso dos meus filhos, essa transição podia ser penosa.

O que fazemos agora, o meu marido e eu, é manter a ideia de grande divertimen­to e fantasia. Continuamo­s a dizer e fazer tudo como se o Pai Natal

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