Destak

Apego aos filhos

- LUÍSA CASTEL-BRANCO Escritora

Os filhos só percebem os pais, e principalm­ente as mães, passados muitos anos, ou quando eles mesmos têm filhos. E mesmo assim, é-lhes sempre difícil aceitar as caracterís­ticas que quase todas as mães têm em comum. Na verdade, a partir do momento em que damos vida a um ser, parte de nós deixa de nos pertencer. Como se nos tivessem roubado um braço ou uma perna que tem vida própria. E por mais que queiramos não ser exageradas nos medos, exigentes na educação, sofredoras com a mais pequena queda, investigad­ora dos amigos e dos seus hábitos, a lista é infinita, algo toma conta de nós e viramos uma pilha de nervos e preocupaçõ­es e desgastes! E tentamos, ah! Se tentamos não ser assim! Só que é mais forte do que nós este medo na boca do estômago de que qualquer coisa de mal lhes possa acontecer. Temos pesadelos quando ainda estão no jardim escola e mal sabemos que a partir daqui é sempre a piorar! Chega a adolescênc­ia, chegam as motas e carros e as mentiras que por vezes não têm importânci­a, mas que para nós são o fim do mundo! Este amor enche-nos os dias. Os poros. As veias. O coração e a alma. É o amor maior que alguma vez vamos ter, ou sentir, e amamos cada filho por igual, sendo eles todos diferentes. E depois de anos sem dormirmos, ou pelas febres, os vírus, as otites, de repente, sem que nos tenhamos apercebido como o tempo voou, temos na nossa frente homens e mulheres que iniciam a sua própria caminhada. Tudo o que podíamos fazer está feito. Ou não? Não sabemos! Ninguém sabe o que está totalmente certo ao educar um ser humano. Podemos pelo menos esperar ter ensinado o que de mais importante tem a vida: respeitar os outros. Aceitar as diferenças. Ser justo. Ser correcto. Amar com paixão. E quando pensávamos com uma tristeza que queremos esconder dentro de nós, que já não precisavam mais de um abraço ou um afago, vêm os netos e o mundo transforma-se em algo maravilhos­o! Uma vez mais.

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