Incerteza e inquietação
Incerteza e inquietação. É como me ocorre comentar a semana que terminou. Borba foi mais uma tragédia que resultou, como todas as outras que se somam nestes dois anos, da incúria do Estado. Há dois dias, um canal de televisão fez uma reportagem sobre o estado das estradas e da ferrovia portuguesa. As chagas do desleixo público vão sendo descobertas e nada acontece, além dos inquéritos do costume. Não ocorreu a nenhum partido da Oposição chamar o Primeiro Ministro à Assembleia da República e exigir esclarecimentos e responsabilidades. Parece que todos se satisfizeram com a justificação do Governo de se tratar – no caso de Borba – de uma questão eminentemente municipal…! Como se o Estado não compreendesse as autarquias e as pedreiras não estivessem sujeitas ao licenciamento e inspecção da Direcção Geral respectiva, a qual não poderia omitir a iminência do perigo que a manutenção da estrada constituía. O Município (que é Estado) não poderia desvalorizar os alertas da exposição dos titulares das explorações de 2014. Mas a Administração Central, conhecedora das circunstâncias, não poderia deixar de intervir considerada a situação em concreto. Tudo isto é de uma linearidade que perturba. Que não nos liguem e se divirtam em jogos vocabulares, cada vez com menos civilidade e nível – diga-se –, é uma coisa. Mas que nos tomem por parvos, já chega! O certo é que a sociedade portuguesa se vai apercebendo que tem um Estado que se demite da sua primeira obrigação: garantir a segurança dos seus cidadãos. Não me adentro noutras e perturbadoras especulações. Apenas registo a falta de sentido de responsabilidade de quem nos governa, de quem se lhe opõe e de quem deveria formar uma opinião pública exigente e esclarecida. Mas para isso era preciso menos comentário futebolístico e outros critérios editoriais. E esse é tema para outra crónica!
O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia