Irmã Lúcia no Benfica
Não, não quero ferir suscetibilidades. Todo o respeito, todo mesmo, pelas diferentes crenças religiosas, ademais por viver numa sociedade de enorme influência judaico-cristã. Da mesma forma, respeito intocável por agnósticos ou ateus, sempre na assunção da pluralidade.
Mas que luz foi essa iluminou Luís Filipe Vieira, declarada pelo próprio, em pomposa conferência de imprensa? Que luz foi essa que levou o presidente do Benfica a fazer uma colossal pirueta, transformando Rui Vitória de futuro ex-treinador em ex-treinador futuro? A confissão é aberrante, é caricata, é risível. Acresce que só dá argumentos aos detratores da maior instituição desportiva, só vai inspissar o anedotário nacional. Até se pode dizer que a Vieira só faltou designar, a título póstumo, a Irmã Lúcia, presidente honorária do Sport Lisboa e Benfica. Mais a sério, Vieira acentua o desastre. É o resultado de uma gestão cada vez mais autoritária e egocêntrica, que observa a cultura empresarial golear a cultura desportiva/competitiva, que determina o predomínio dos jogos em tribunal relativamente aos jogos nos estádios. Como é possível Vieira não acompanhar a equipa nos confrontos internacionais? Como é possível Vieira ser o principal responsável pelo folhetim Jorge Jesus, que trouxe para a ribalta, debilitando Rui Vitória e fraturando mais ainda o universo rubro?
A situação atual do Benfica é caótica e de uma irresponsabilidade aflitiva. A tudo isso soma-se a gritante incompetência da estrutura de comunicação, incapaz de gerir os dossiês mais intricados. Da minha parte, reforçando que nunca aceitarei um cargo remunerado no Benfica, resta jamais me demitir do exercício da cidadania benfiquista, única forma de tentar pagar a gigantesca dívida emocional que tenho para com o clube que amo.