O dinheiro vs. os adeptos
Vou colocar-me na pele de um adepto argentino: uma final da Taça Libertadores em Madrid é estranho. Uma final da Libertadores entre duas equipas de Buenos Aires é muito mais que estranho. Olhar para os acontecimentos da 2ª mão da final, nas imediações do estádio do River Plate, e saber se a decisão foi desproporcional ou não é um exercício complicado. Mesmo que o encontro fosse de altíssimo risco, não existiriam outras opções dentro da Argentina? Ou até num outro país da América do Sul? Talvez.
Adeptos argentinos foram “espoliados do jogo das suas vidas” a favor da lógica do negócio
Levar o jogo para a capital espanhola, do ponto de vista do adepto, ainda para mais do adepto argentino, particularmente apaixonado, é trágico. É tirar a essência e a importância cultural ao jogo. Mas do ponto de vista do negócio? Bem, talvez a Conmebol, o organismo que regula o futebol sul-americano, e os próprios clubes terão a oportunidade de recolher alguns potes de ouro nos próximos meses. Porque um jogo de importância local tornou-se, de repente, num acontecimento global: toda a gente quis saber um pouco mais sobre a história de River e Boca, toda a gente, e não só o maluquinho da bola, quis dar um olhinho no jogo. E assim, em vez de poucos, muitos ficaram a conhecer a paixão dos argentinos pelo futebol, muitos descobriram essa estrela à espera de acontecer chamada Exequiel Palacios, do River, ou Nahitan Nandéz, do Boca, um pouco mais experiente, igualmente bom. E, causa-consequência, talvez o valor de mercado suba consideravelmente. Isto é bom para os clubes, mas nunca será bom para os adeptos, espoliados do jogo das suas vidas. Mas o futebol há muito que é um negócio.