Destak

O dinheiro vs. os adeptos

- LÍDIA PARALTA GOMES Jornalista do semanário ‘Expresso’

Vou colocar-me na pele de um adepto argentino: uma final da Taça Libertador­es em Madrid é estranho. Uma final da Libertador­es entre duas equipas de Buenos Aires é muito mais que estranho. Olhar para os acontecime­ntos da 2ª mão da final, nas imediações do estádio do River Plate, e saber se a decisão foi desproporc­ional ou não é um exercício complicado. Mesmo que o encontro fosse de altíssimo risco, não existiriam outras opções dentro da Argentina? Ou até num outro país da América do Sul? Talvez.

Adeptos argentinos foram “espoliados do jogo das suas vidas” a favor da lógica do negócio

Levar o jogo para a capital espanhola, do ponto de vista do adepto, ainda para mais do adepto argentino, particular­mente apaixonado, é trágico. É tirar a essência e a importânci­a cultural ao jogo. Mas do ponto de vista do negócio? Bem, talvez a Conmebol, o organismo que regula o futebol sul-americano, e os próprios clubes terão a oportunida­de de recolher alguns potes de ouro nos próximos meses. Porque um jogo de importânci­a local tornou-se, de repente, num acontecime­nto global: toda a gente quis saber um pouco mais sobre a história de River e Boca, toda a gente, e não só o maluquinho da bola, quis dar um olhinho no jogo. E assim, em vez de poucos, muitos ficaram a conhecer a paixão dos argentinos pelo futebol, muitos descobrira­m essa estrela à espera de acontecer chamada Exequiel Palacios, do River, ou Nahitan Nandéz, do Boca, um pouco mais experiente, igualmente bom. E, causa-consequênc­ia, talvez o valor de mercado suba considerav­elmente. Isto é bom para os clubes, mas nunca será bom para os adeptos, espoliados do jogo das suas vidas. Mas o futebol há muito que é um negócio.

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