Destak

Somos todos animais

- JOÃO MALHEIRO Jornalista

AFátima Lopes, há uns pares de anos, na SIC, perguntou-me se gostava de animais. Disse que adorava, repeti mesmo, pondo-me a jeito para nova questão. Quantos tinha? Nenhum, foi a resposta, seguida de um esclarecim­ento, presumo que convincent­e. Gostar de animais, muitas vezes, não é tê-los, antes não tê-los, caso as condições mínimas inexistam.

Dias atrás, O PAN, com assento parlamenta­r, sugeriu que se alterassem provérbios, muitos dos quais seculares. Nada de fazer gato sapato, menos pegar o touro pelos cornos, menos ainda pela boca morre o peixe, muitíssimo menos matar dois coelhos de uma só cajadada. Interdição para bicho ruim não há mal que lhe chegue ou para a cabra apregoa mel e vende azeitonas ou ainda para antes um pássaro na mão do que dois a voar. Pior mesmo soltar os cães, amigo da onça, conversa para boi dormir, estar com a macaca. E até, em linguagem erótico-popular, nem por sombras falar de homens que gostam de tocar ao bicho, dotados de grande sardão, desejosos de ir à rata para afogar o ganso, seja a uma gata ou a uma vaca. Tudo porque em boca fechada não entra mosca.

Nada contra os animais. De resto, como sustentava o filósofo Schopenhau­er, quem é cruel com os animais não pode ser boa pessoa. Também, grifado por Gandhi, a grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo como os seus animais são tratados. Ou até, segundo Teixeira de Pascoaes, os animais são pessoas como nós somos animais.

Tenho um cão, entregue aos melhores cuidados e a todos os mimos. Chama-se Toy, nome que nada tem a ver com o meu amigo intérprete de música popular. Espero que o PAN não embirre com a opção, que significa brinquedo na língua inglesa. É que o Toy, para mim, não é um brinquedo, é um folguedo, é um toledo.

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