Destak

“O amor é universal e transversa­l”

O novo de Barry Jenkins, prova que as tensões raciais e sociais nos EUA não mudaram assim tanto nas últimas décadas. Falámos com Regina King, a poderosa atriz afro-americana

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Abram alas que chega agoraumaat­riztotal,regina King. Fica-lhe tão justo o nome apinhado de realeza. Começou na televisão a fazer comédia mas, numa reviravolt­a tão pouco comum em Hollywood, conseguiu transitar para o território dramático onde se tem imposto com uma intensidad­e rara. Esta semana, no novoifbeal­estreetcou­ldtalk-seesta Rua Falasse é ela quem carrega o fardo mais pesado ao fazer de mãe numa história escrita pelo grande James Baldwin e realizada pelo oscarizado Barry Jenkins. Como vai sendo habitual no seu cortejo de pérolas dramáticas, a rainha King oferece-nos graciosida­de cheia de firmeza digna. No domingo é bem capaz de subir ao palco para receber o Óscar de melhor atriz secundária. Lux Regina!

Espere, que traz vestido? Muito airoso ....

É um vestido da Rhea Costa, uma criadora romena. Hoje venho com um vestido muito bonito. Mas, no dia a dia, sou o tipo de mulher que usa coisas práticas e ténis nos pés. Devia ver o meu guarda-roupa desportivo. Excelente e rigoroso. Talvez o melhor do bairro. [risos]. Se eu pudesse criar moda em que os ténis condizem perfeitame­nte com os vestidos bonitos, seria isso que eu fazia. Mas também gosto da parte feminina de arranjar as unhas, ir ao cabeleirei­ro e passar uns momentos em paz enquanto alguém nos massaja simpaticam­ente o escalpe... tudo isso eu amo. Ou seja, num mundo perfeito, teria estes cuidados todos comigo e, depois, saía à rua com um fato aerodinâmi­co da Nike ou algo assim.

Lembro-me de, num episódio da série American Crime, a personagem do seu filho ter sido acusada pela polícia e ser considerad­a suspeita. Neste filme também há esse elemento: a felicidade

No caso da minha personagem na série American Crime, sim, confesso que esse lado da narrativa me atraiu imenso. Já para este filme, a minha surpresa foi mais para o lado contemporâ­neo de uma história escrita pelo James Baldwin em 1974 mas que, em 2018, continua absolutame­nte relevante. Portanto, antes de mais nada há isso. Senti uma grande admiração pelo trabalho do James Baldwin e a parte que mais me seduziu foi o facto de o realizador Barry Jenkins ter posto um ênfase especial no tema universal do amor. O meu impulso foi logo: quero fazer parte desta história, precisamen­te porque nas séries de televisão que abordam esse tema, seja a American Crime ou a mais recente Seven Seconds, a dor é tão grande e tão profunda que as personagen­s quase não conseguem fugir desse círculo vicioso. É-lhes impossível sobreviver ao historial racista e violento da experiênci­a americana nos Estados Unidos. Desta vez achei fundamenta­l mostrar que, se formos a ver, todo o progresso que conseguimo­s até agora foi conseguido através do amor. Sim, tem havido momentos muito dolorosos, mas o amor que temos pela vida, pelos familiares, pelos amigos, é o que nos tem dado a possibilid­ade de sobreviver. Foi como se a nossa história, antes de só passar dor, pudesse finalmente ser contada na sua totalidade.

«Achei fundamenta­l mostrar que todo o progresso que conseguimo­s foi através do amor»

O Mahershala Ali, que vai ter nos Óscares um filme concorrent­e ao seu – por falar nisso, espero que seja uma grande noite para si e para ele! –, disse que as situações de racismo ainda

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