A luta do Papa
Reconheço que nestes tempos em que vivemos não é fácil ser católico. O mundo, neste último quartel, foi sendo dominado pelo relativismo moral imposto por duas agendas políticas opostas mas convergentes. Neo-liberais e a nova esquerda trataram de fazer a elegia comum da ‘civilização do prazer’ e da cultura do egoísmo sem qualquer freio, ajudados pelo domínio das redes sociais e pelo decesso das fundações da sociedade. A família desintegrou-se, a escola alheou-se primeiro e promoveu depois, o Estado não quis envolver-se na refrega e acedeu consagrando legislativamente o que lhe era pedido, não fosse catalogado como retrógrado e conservador. Mesmo as forças políticas tradicionais abdicaram da sua influência e quiseram assumir esta ‘pós-modernidade’. Com este antropocentrismo epidérmico vieram outros miasmas deletérios, designadamente a pusilanimidade das lideranças políticas e o decréscimo da influência das instituições de mediação social. Potenciaram-se as lógicas grupais, nacionalistas, pouco dispostas à tolerância e indiferentes ao que se passa em seu redor. O mundo está perigoso. Nada no horizonte se antolha que o possa regular. É aqui que aparece a palavra de Francisco. A defesa da Igreja inclusiva que agregue e não afaste. A luta contra a insolidariedade e pela ajuda a quem mais sofre. A Igreja do abraço disponível e caloroso. A Igreja destes homens e destes tempos, meio perdidos e em busca de uma luz que os guie e lhes serene as almas. Uma Igreja mais humana, mais a tocar o coração de cada um e menos ritualista. A Igreja da simplicidade. Aberta e não fechada sobre si própria. Eu estou deste lado. Acredito neste Papa como uma bênção que o Mundo recebeu. A sua contestação é mais um dramático sinal destes tempos dramáticos em que nos é dado viver.
O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia