Costa avança para Lisboa mas desafia Seguro a unir partido
Líder socialista ataca “agendas pessoais” e recusa “regresso ao passado”. O presidente da câmara da capital diz- se disponível para se recandidatar à autarquia, mas deixa a porta aberta para disputar a liderança do partido
À entrada da sede do Largo do Rato, todos pediram uma clarificação no Partido Socialista. Mas o tabu de António Costa, sobre uma eventual candidatura à liderança, manteve- se e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa só foi claro na vontade de se recandidatar à autarquia.
A reunião da Comissão Política – que ainda decorria à hora de fecho desta edição – ficou marcada por uma intervenção inicial de António José Seguro, que várias fontes descreveram como muito dura, onde o secretário- geral se apresentou como candidato ao seu próprio lugar.
Depois o líder assestou baterias contra as vozes críticas que, na última semana, levantaram a polémica da data do Congresso, pondo em causa a sua liderança. “Eu não admito que nenhum combate político seja condicionado por agendas pessoais, pela mera ambição pessoal e pelo regresso ao passado”, afirmou, segundo revelaram fontes oficiais do partido ao DN.
Num discurso de 15 minutos, que terá sido muito aplaudido de acordo com fontes da direção, o líder socialista apresentou a sua candidatura “em nome de uma cultura muito própria do PS, que nada tem a ver com o PSD – uma cultura de solidariedade, de respeito e de lealdade”.
António José Seguro deixaria um lamento sobre a forma como este processo foi espoletado, criticando, segundo essas fontes, a“irresponsabilidade e deslealdade”, bem como a obstrução por parte de uma fação ao trabalho da atual direção. No momento em que os portugueses mais precisam do PS este trabalho é posto em causa, notou o secretário- geral.
Ainda antes de António Costa ter tomado a palavra ( o que aconteceu pela primeira vez em ano e meio nos órgãos internos do partido, observaram ao DN fontes socialistas), Seguro deixou uma interrogação. “O que mudou da últi- ma comissão política [ a 5 de novembro passado] para agora?”, quando na altura todos tinham deixado elogios à atuação da direção socialista.
ANTÓNIO COSTA
ANTÓNIO JOSÉ SEGURO
António Costa falaria depois para fazer o ultimato a Seguro. Sem prazo marcado. “Se não for capaz de unir o partido, eu avanço”, afirmou, de acordo com relatos de dirigentes próximos do presidente da Câmara de Lisboa.
Unir o partido passa por assumir o passado, de acordo com perguntas concretas que Costa deixou na mesa, dirigindo- se a Seguro. “Considera que é capaz de unir o partido, ou vai fazer um congresso a falar de deslealdade, sem assumir a história do partido e sem se preocupar com a unidade do PS? Quer dividir ou quer unir o PS?”
O discurso foi recebido, segundo relatos recolhidos pelo DN, com alguma deceção por aqueles que esperavam que António Costa desafiasse o líder.
A única certeza que o autarca deixou é a da disponibilidade para se recandidatar a Lisboa, afirmando mesmo que o partido tem de se concentrar no combate autárquico – e que ele é um dos principais interessados nesse combate.
Ora, a direção mantém a vontade em realizar o Congresso o mais depressa possível, apurou o DN. A presidente do partido convocou para 10 de fevereiro a reunião da Comissão Nacional que marcará o Congresso – e as eleições diretas que o antecedem. O prazo mínimo estatutário para fazer o conclave é de 60 dias, o que faz antever a sua realização em abril, eventualmente a 13 e 14 de abril ( passados os tais dois meses de intervalo).
Fontes na reunião socialista referiram que Costa terá defendido um Congresso para depois das autárquicas, previstas para outubro.
Pedro Silva Pereira, o deputado e antigo braço direito de Sócrates – que acelerou esta crise socialista, com uma entrevista a pedir o congresso “o mais depressa possível” – fez ontem uma intervenção muito crítica de Seguro e da direção socialista, rejeitando as acusações de “deslealdade” e a“tese de conspiração”, que nos últimos dias alguns dirigentes alimentaram nos jornais.