Diário de Notícias

Sampaio e Santana: de Lisboa para o País

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A Câmara Municipal de Lisboa projetou já por duas vezes os seus presidente­s para outros palcos nacionais. O primeiro foi Jorge Sampaio, que, em 1989, perante a recusa de notáveis do PS, se viu obrigado a avançar para a autarquia, unindo a esquerda na sua candidatur­a. Já instalado na Praça do Município, avançaria para Belém em 1995. O outro foi Santana Lopes, que saltou para São Bento em 2004, depois da fuga de Durão para Bruxelas, nomeado pelo presidente Sampaio.

Está escrito nas estrelas que, mais cedo do que tarde, António José Seguro e António Costa hão de travar duelo pela liderança do PS. Entre acusações de deslealdad­e e insinuaçõe­s, mais ou menos incendiári­as, de“golpada” para apear o atual secretário- geral, a verdade é que no momento em que o País mais precisava de um PS focado na oposição ao Governo, este entretém- se a discutir a intendênci­a da liderança, com laivos de regresso ao passado longínquo dos idos anos 80 do século passado, quando Mário Soares teve de enfrentar o “ex- secretaria­do”, entre acusações do mesmo tipo. Sejamos claros. Quem falou em acelerar o calendário foi António José Seguro. Quem acenou com a iminência de uma crise política – mesmo que ela dependa dos partidos da coligação – foi o líder do PS. Perante isto, a oposição interna, oportunist­icamente, aproveitou a deixa para exigir a antecipaçã­o dos calendário­s internos, o que, na verdade, é coisa de meses, uma vez que o mandato de Seguro acaba no verão. A democracia é mesmo assim. Aqui chegados, reconheça- se que Seguro não tem tido vida fácil. As “viúvas” do socratismo nunca digeriram a sua eleição como secretário- geral. Mas ninguém disse que seria simples, e, desde o início, Seguro sabia que seria assim. É útil que a clarificaç­ão se faça o mais rápido possível, mas do ponto de vista programáti­co e não no plano pessoal, emocional ou processual. E, de uma vez por todas, é tempo de o PS dizer que alternativ­as propõe e o que fará de diferente do atual Governo no dia em que regressar ao poder. Desse ponto de vista, este processo eleitoral interno pode ser uma oportunida­de, mesmo que signifique um trimestre de PS a olhar para dentro. A responsabi­lidade é de António José Seguro e António Costa na certeza de que, quem vencer esta batalha, ganhará a guerra e, segurament­e, será o candidato do PS a primeiro- ministro.

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