Diário de Notícias

Milhares de pessoas na última homenagem às vítimas da Sertã

Cidade parou para os funerais de oito das 11 vítimas mortais do acidente de autocarro, no domingo. Autarca diz que, após “um dia muito difícil”, é tempo de “ajudar os seus familiares e zelar por aqueles ainda internados”

- LU Í S GODINHO

1 “Último adeus da esposa e filhos.” Escrita sobre uma fita de cor prateada a envolver um ramo de rosas amarelas, a frase perpetua o momento em que a família se despediu de uma das vítimas mortais do acidente na Sertã. O ramo é cuidadosam­ente colocado sobre a campa, ao lado de outras campas que a tragédia obrigou a abrir, ao lado de dezenas de outros ramos onde se leem frases igualmente sentidas. “Saudade eterna, descansa em paz.”

São 15.00 do dia mais “negro” de que há memória em Portalegre. No cemitério da cidade cinco funcionári­os municipais colocam ramos e ramos de flores sobre as campas onde pouco tempo antes tinham sido sepultados oito filhos da terra. Um dos funcionári­os confessa, com alguma emoção, ter- se tratado de um dia “muito complicado”, um dia em que teve de enterrar amigos.

As cerimónias fúnebres terminaram há duas horas mas no cemitério permanecem igualmente alguns familiares das vítimas. O tempo é de dor, de luto, é tempo de viver a solidão da perda depois de todos os momentos posteriore­s ao despiste do autocarro, domingo no IC 8, terem sido seguidos de perto, com emoção, por centenas de pessoas numa manifestaç­ão pública de pesar.

Na cidade onde residiam dez das 11 vítimas mortais diz- se que todos perderam alguém… um familiar, um vizinho, um amigo. “Foi um dia de grande dor não só para a cidade de Portalegre mas para todo este território, onda todas as pessoas partilhara­m a dor destas famílias”, diz a presidente da câmara, Adelaide Teixeira. “Vivemos um dia muito difícil mas agora há que honrar a memória dos mortos, ajudar os seus familiares e zelar por aqueles que ainda se encontram internados.”

Aos Paços do Concelho têm chegado inúmeras de mensagens de condolênci­as, entre as quais se incluem a do Presidente da República, Cavaco Silva, e a da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves. “Agora é tempo de voltar a enfrentar o dia a dia, pois é dessa forma que honramos a memória daqueles que morreram”, acrescenta a autarca, garantindo que o gabinete de apoio psicológic­o criado pelo município irá continuar a dar apoio.

Depois das autópsias realizadas segunda- feira no Gabinete Médico Legal de Castelo Branco, os corpos das vítimas foram levados para Portalegre, tendo sido velados por familiares e amigos em quatro igrejas: Bonfim, Santana, Santiago e Assentos. Nesse dia, ao final da tarde, realizou- se o primeiro funeral, tendo os corpos de Manuel e Josefa Mandeiro, um

dos três casais que perderam a vida, sido levados para o cemitério de Elvas, onde foram cremados.

Ontem, depois das 09.00, os corpos das restantes oito vítimas residentes na cidade foram transporta­dos para a Sé. Foi aqui que o bispo de Portalegre e Castelo Branco celebrou uma missa de corpo presente, na qual deixou uma“palavra de esperança fundamenta­da na Fé para ajudar as pessoas a ultrapassa­r este momento, que é sempre difícil para todos”.

À cerimónia assistiram centenas de pessoas que posteriorm­ente acompanhar­am os corpos num percurso a pé até ao cemitério. “A cidade envolveu- se nesta manifestaç­ão de pesar e de solidaried­ade para com as famílias”, assinalou D. Antonino Dias. “Depois de acabar toda esta confusão [ as famílias] vão sentir muito mais a dor e a ausência”, advertiu.

Pessoas de São Paio de Oleiros ( Santa Maria da Feira), localidade para onde os excurcioni­stas se dirigiam a fim de visitarem “O Maior Presépio do Mundo”, fizeram questão de se deslocar ao Alentejo para os funerais.

O funeral de Jerónima Félix, 52 anos, a única vítima mortal não residente em Portalegre, realiza- se hoje em Assumar, Monforte.

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ALVARO ISIDORO E LUIS PARDAL/ GLOBALIMAG­ENS

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