Lições da Sertã
Éem momentos de tragédias, como o do acidente da Sertã, no domingo, que voltamos a focar o olhar na televisão. E a perceber da nossa pequenez e da rapidez com que tudo se passa. Basta um fração de segundo, uma distração, um “solavanco” no alcatrão, uma curva mais apertada. Num instante, a vida despenha- se numa ravina e as câmaras despertam. Desta vez, mais à distância, que as autoridades policiais delinearam um perímetro de segurança. Sábia atitude, que impediu, por exemplo, as filmagens mesmo em cima, num quase pornográfico espiolhar daquilo que noutros tempos Artur Albarran classificou de... o drama, o horror, a tragédia. Nestas coisas de tragédias na estrada, que envolvem sempre perdas físicas e dramas emocionais, as imagens podem ser muito mais brutais do que as palavras ditas em direto. Até porque o pós- Entre- os- Rios fez o seu caminho. Quase 12 anos depois da queda da Ponte Hintze Ribeiro, de que resultou a morte de 59 pessoas, é incomparável o grau de pre- paração evidenciado pelos jornalistas portugueses, sobretudo os da televisão, que têm a obrigação de lidar com o momento, em direto e sem rede. A reportagem nestes teatros é hoje muito mais serena, muito mais rigorosa, muito menos relatada. No passado domingo, com o acidente da Sertã, RTP Informação, SIC Notícias e TVI 24 fizeram o seu melhor. Mais lesta e completa, ainda assim, a RTP, com mais meios disponíveis no imediato, e a fazer lembrar uma vez mais a importância da sua rede de correspondentes e delegações, agora que a palavra de ordem do Governo é cortar e reestruturar. Pois que se cortem as gorduras, sim, mas que não se mate o doente à fome...