Diário de Notícias

Lorde diz não pensar muito em críticas nem em elogios

Música. A cantora neozelande­sa, de 17 anos, falou ao DN horas antes de atuar pela primeira vez em palcos portuguese­s, na recente edição do Rock in Rio- Lisboa. Afirma não pensar muito sobre as críticas de que é alvo... ou sobre os elogios

- J OÃO MOÇO

A neozelande­sa Ella Yelich- O’Connor, mais conhecida como Lorde, estreou- se há uma semana em Portugal, no Rock in Rio- Lisboa, onde apresentou um espetáculo, e uma mão- cheia de canções, que a distanciam das cantoras pop que dominam a indústria. O concerto pautou- se pelo seu minimalism­o visual, complement­o ideal para canções feitas de texturas eletrónica­s em que impera a sobriedade. Apesar de não se reger por alguns dos valores dominantes no meio, Lorde não deixa de ser um dos grandes fenómenos do contexto pop atual. Apareceu com a canção Royals e “dominou” o mundo, tendo inclusivam­ente sido eleita pela Time como a jovem artista mais influente do seu tempo. Tem apenas 17 anos.

“Sinceramen­te, tento não pensar sobre essas conceções. Se vou acreditar nas coisas boas que dizem e escrevem sobre mim, então também tenho de acreditar nas más. Numa semana, a Time pode escrever isso e um dia depois uma outra revista publicar uma crítica negativa sobre mim. O mais fácil é fazer apenas aquilo em que acredito e não me preocupar com o que poderão dizer”, afirmou a cantora ao DN, poucas horas antes de subir ao palco do festival.

A canção Royals, que a pôs nas bocas do mundo, distinguid­a com o Grammy de Canção do Ano, foi lançada quando Lorde tinha 16 anos. No tema, a cantora faz uma série de críticas à sociedade consumista. Douglas Wolk, da Time, descreveu o tema como “uma rejeição certeira das aspirações que foram impingidas às vítimas do capitalism­o”. No entanto, na letra Lorde faz também algumas generaliza­ções da cultura hip hop, o que a tornou alvo de algumas críticas, nomeadamen­te da feminista Veronica Bayetti Flores, que se referiu à canção como “racista”. “Foi um pouco stressante para mim porque preocupo- me com essas questões. Não era de todo a minha intenção [ ter uma mensagem racista], mas existem alguns pontos em relação ao argumento tecido pelos jornalista­s que talvez estejam certos, mas tinha apenas 15 anos quando escrevi a canção. Hoje tenho 17. Li muito desde en- tão, aprendi muito. Se alguém se sente afetado pela canção, eu não o vou negar. É justo. Aprendi desde então que o que digo e escrevo pode afetar as pessoas de uma forma que eu não esperava. Mas a verdade é que é que algumas coi- sas foram retorcidas para servir certos argumentos”, explicou.

Lorde tem hoje uma maior consciênci­a em relação ao poder que as suas palavras têm, daí que recorrente­mente se defina como feminista. No entanto, a jovem sabe que exis- tem “muitos equívocos sobre feminismo, o que leva algumas pessoas a distanciar­em- se do conceito”. Ainda assim, se com as suas palavras conseguir “levar outras jovens mulheres a perceber que [ o feminismo] não é vergonhoso, então fico feliz”. E acrescenta: “Para mim não faz sentido não defender qualquer tipo de igualdade, seja quanto à raça, à orientação sexual ou ao género, e o feminismo também é isso.”

O facto de ter começado a trabalhar na indústria pop tão cedo leva a que, por vezes, Lorde se depare com a desconfian­ça alheia, de quem não acredita no seu grau de envolvimen­to em relação à construção da sua obra, como lembrou. “Como uma jovem artista, é algo com que me deparo às vezes. Muitas pessoas nem percebem que não me estão a levar a sério, apenas assumem que eu não posso estar tão envolvida por causa da minha idade. Quando as pessoas me conhecem tratam- me como uma criança, mas depois isso muda e as pessoas em quem realmente confio sabem que tenho uma visão muito definida em relação ao que faço.”

Entretanto, a neozelande­sa já começou a trabalhar no sucessor do álbum de estreia, Pure Heroine ( 2013), ainda que não haja planos muito concretos, até porque a cantora continua em digressão, que só chegará ao fim em outubro, nos Estados Unidos.

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JOÃO GIRÃO / GLOBAL IMAGENS Lorde já começou a trabalhar no sucessor do seu álbum de estreia, Pure Heroine

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