Seguro em duas frentes
São tempos exigentes estes para António José Seguro. Por um lado, tem de enfrentar o desafio no interior do Partido Socialista feito por António Costa; por outro, não pode abdicar do seu papel de líder do principal partido da oposição e continuar a pronunciar- se sobre a situação geral do País. Ontem, o dia foi marcado por essa complicada dualidade: o líder do PS começou o dia a atacar, via Facebook, Costa, acusando o autarca de Lisboa de prejudicar as possibilidades de o partido chegar ao Governo nas próximas legislativas. Mais tarde, em declarações que o DN hoje publica, apontou o dedo a Cavaco Silva, afirmando que o Presidente, com o seu muro de silêncio sobre os problemas dos portugueses, contribui para o descrédito das instituições.
Em democracia, o confronto de ideias é sempre bem- vindo. E a disputa dentro do PS para se decidir quem mais bem representará o partido nas legislativas previstas para o próximo ano até pode resultar, findo o processo, num reforço da posição socialista, seja Seguro ou Costa o vencedor. Mas, ao mesmo tempo, a luta entre barões arrisca- se a desviar o PS de um tema que deve ser prioridade, a monitorização da ação do Governo liderado por Pedro Passos Coelho e a formulação, pensada e atempada, de um projeto alternativo. E por isso a missão de Seguro parece ser mais espinhosa do que a de Costa, remetido na Câmara Municipal de Lisboa a um papel mais concreto de governante.
Seja para os militantes socialistas, que serão chamados a votar em primárias a 28 de setembro, seja para os portugueses em geral, a forma como Seguro souber encarnar os dois desafios que enfrenta agora, e ao mesmo tempo mostrar que sabe separar as águas, acabará por moldar a sua opinião sobre o atual secretário- geral do PS.