Diário de Notícias

A revista campeã em irritar a realeza

Espanha. Demissão de oito cartoonist­as após capa censurada com a abdicação do rei mostra relação difícil entre a El Jueves e a Casa Real

- NUNO CARDOSO

Tem sido uma relação conturbada a que liga a revista de sátira política El Jueves à monarquia espanhola, um dos alvos preferidos da publicação semanal que é editada há 37 anos. O tema volta a estar na ordem do dia com a ordenação da editora RBA de retirar de circulação os 60 mil exemplares da edição desta quarta- feira que foram para impressão, e que tinha na sua capa – já divulgada na web – o rei Juan Carlos a abdicar do trono e a colocar uma coroa suja na cabeça do filho e sucessor, o ainda príncipe Felipe. O ato de censura fez que a revista desta semana fosse para as bancas um dia mais tarde, desta vez com o líder do partido Podemos, Pablo Iglesias, na capa.

A atitude levou à demissão de oito cartoonist­as, muitos deles dos mais conceituad­os em Espanha, como Manel Fontdevila, o autor da primeira página retirada de circulação, e Albert Monteys, ex- diretor da revista. “Têm sido dias difí-

ceis.[...] Há tanta dignidade e valor nos que se demitiram como naqueles que lá ficam a batalhar e que vão enfrentar agora condições mais duras. El Jueves continua a ser um oásis nas bancas, apesar de tudo”, frisou Monteys ontem no Twitter, reiterando ainda que a retirada da capa é da responsabi­lidade da RBA [ uma maiores das edi - toras em Espanha, responsáve­l por revistas como National Geographic, Semana,

Lecturas ou In Style] e não da revista em si. E ao jornal El Mundo, adiantou: “Com esta decisão, estão a matar a revista. A RBA deu um tiro na cabeça à El Jueves.”

Em silêncio continuam a editora da revista e a diretora, Mayte Quílez. Segundo fontes do El Mundo, a responsáve­l pela El

Jueves terá avisado a equipa que não quer a “realeza” na capa “durante algum tempo”. Uma medida também comentada por Albert Monteys no Twitter. “Uma das coisas que forçou a minha demissão foi a proibição expressa da RBA de abordarmos a casa real na capa. No interior da revista, dizem- nos que podemos fazer como nos apetecer. Obrigado, RBA”, ironiza Monteys, membro do conselho de redação, com 18 anos de casa. Perita em incomodar a realeza espanhola, são vários os casos que provam isso mesmo. Em janeiro de 2012, a revista usou como título de capa: “A única conclusão possível: a infanta Cristina é tonta”, referindo- se ao facto de a Casa Real ter dito que a filha de Juan Carlos não sabia dos negócios do marido, Iñaki Urdangarín, acusado de má gestão de fundos públicos e fraude.

Um ano antes, a El Jueves ilustrou a sua capa com um desenho de Juan Carlos com as calças em baixo e com os testículos cortados

Em 2007, cartoon de Felipe e Letizia em posição sexual levou a revista a pagar uma multa de seis mil euros

numa bandeja. Isto depois de o jornalista Jaime Peñafiel ter dito num programa de TV, La Noria, que o Rei “amputou um testículo”. A intenção, explicou na altura a revista, foi dar uma resposta possível que o gabinete de imprensa do palácio de La Zarzuela poderia ter dado. “A Zarzuela desmente Peñafiel e mostra que sua majestade não precisa de ovos”, lia- se na capa.

Em 2007, uma primeira página com Felipe e Letizia, Príncipes das Astúrias, numa posição sexual, levou a realeza espanhola a processar a publicação. A El Jueves viu- se obrigada a pagar uma multa de seis mil euros.

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Realeza espanhola é presença frequente na capa da revista satírica
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