Diário de Notícias

Um país à escala do Rato

- Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfic­o

Uma história engraçada a correr por aí é a do medo que António Costa suscita na direita. Em primeiro lugar, não sei o que se entende por “direita”, se os partidos no Governo ou se as pessoas que não apreciam um Estado intrometid­o e salteador ( ambas as instâncias parecem- me algo incompatív­eis). Em segundo lugar, garantiram- me que uma sondagem “interna” coloca o portentoso “carisma” do Dr. Costa um ou dois pontos percentuai­s acima do pobre rival nos gostos do eleitorado em geral. Por conveniênc­ia, admitamos que PSD e CDS andam assustadís­simos e que as facções empenhadas em enxotar o Dr. Seguro têm razão.

Ainda assim, não é esse o ponto. O ponto é a tese que resume os apetites dos insurgente­s no PS: trocar o líder A pelo líder B é vital na medida em que A não é capaz de devolver os socialista­s ao poder ( ou o poder ao partido) e B talvez o faça. Pelo menos a franqueza é louvável. Claro que todos os partidos actuam em benefício daquilo que os coloca próximos do mando, mas costumam disfarçar a cobiça sob o simulacro de um debate interno e vagamente ideológico. O PS do Dr. Costa, ou que se serve do Dr. Costa, não disfarça. Ali não existe a menor intenção de distinguir o pensamento do autarca lisboeta do pensamento do secretário- geral, tarefa de resto impossív e l na medida e m que nunca qualquer deles revelou possuir semelhante excentrici­dade. B é preferível a A porque sim.

Marx, o bom e velho Groucho, esclarecia: estas são as minhas convicções; se não gostarem, arranjo outras. No PS não há convicções nenhumas, excepto a certeza de que se está mais confortáve­l a decidir orçamentos do que a votar contra eles, a satisfazer clientelas do que a pedir- lhes paciência, a afundar a economia do que a acusar Pedro Passos Coelho do mesmo. Não ocorre aos socialista­s que à margem das intrigas há alguns milhões de cidadãos, certamente cansados de austeridad­e e provavelme­nte abismados com o brutal egoísmo dos que lhe prometem o fim da austeridad­e. Em suma, discute- se o melhor para o PS como se se discutisse o melhor para o País. Por acaso, e por norma, costuma funcionar ao contrário. Nesse sentido, e só nesse, o Dr. Costa mete medo.

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