Britânicos Blur regressam com o novo álbum de originais The Magic Whip
Em 2013, o mau tempo cancelou um concerto no Japão. Juntos, os Blur aproveitaram e gravaram os temas agora editados.
Ouvimos The Magic Whip e não temos dúvidas de que isto é Blur. Bastam uns segundos do tema de abertura, Lonesome Street, para nos situarmos naquele ambiente urbanodepressivo da pop britânica. Go Out poderia perfeitamente ter sido um desses temas que ficou de fora de 13, I Broadcast não destoaria no alinhamento de Parklife. E quem procurar bem ainda é capaz de encontrar ali um cheirinho a Beatles ( ouça- se Ong Ong). Os rapazes – o vocalista Damon Albarn, o guitarrista Graham Coxon, o baixista Alex James e o baterista Dave Rowntree – estão mais velhos, mas ainda os reconhecemos. Isto é bom ou mau?
Para quem é fã desde os tempos de Leisure, o primeiro disco de 1991, ou, mais provavelmente, desde Modern Life Is Rubbish, de 1992, esta é certamente uma boa notícia. Naquela altura, quando a britpop era “a cena” e o mundo se dividia entre os que gostavam de Blur e os que preferiam os Oasis, a banda de Damon Albarn refletia bem o sentimento de uma juventude desiludida com a sociedade, sobre a qual lançava o seu olhar irónico acompanhado por uma guitarra elétrica. Depois as coisas mudaram.
Após o lançamento de 13 ( o disco de 1999) e dos concertos que se lhe seguiram, alguns dos elementos dos Blur começaram a participar noutros projetos. Damon Albarn dedicou- se aos Gorillaz ( e mais tarde haveria de gravar sozinho), Graham Coxon gravou uma série de álbuns a solo, Alex James integrou os Fat Les. Apesar disso, o grupo manteve- se. Só Coxon anunciou o seu afastamento, explicando que sentia que precisava de dar um tempo, tal e qual como fazem os namorados. O disco seguinte, Think Tank, foi praticamente só escrito por Albarn e i sso notava- se. Na digressão, o guitarrista Simon Tong ( ex- Verve) substituiu Coxon. E, apesar do relativo sucesso do disco e dos concertos, este parecia ser o ponto final na carreira dos Blur.
De então para cá, surgiram frequentemente boatos sobre a reunião do grupo. O que só aconteceria, de facto, em junho e julho de 2009 para uma série de apresentações ao vivo. No palco, o grupo parecia ter recuperado o seu antigo fulgor ( The Guardian elegeu--os como o melhor de Glaston - bur y)e, a aproveitar a onda, f oi lançado o segundo álbum de êxitos da carreira do grupo: Midlife: A Begginer’s Guide to Blur. Começaram a surgir as primeiras gravações novas. Escassas. Fool’s Day ( 2010), Under the Westway e The Puritan ( 2012). Sim, era verdade, eles andavam a trabalhar em novas composições, e os fãs começaram a acreditar num novo disco. Mas antes de isso acontecer, ainda haveria mais concertos, incluindo o da cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
“No f i nal da última digressão sentia que não havia forma de fazermos outro concerto sem um outro álbum”, explicou Damon Albarn na apresentação de The Magic Whip. Há 12 anos que não havia um álbum de originais dos Blur mas a verdade é que há 16 anos que os quatro elementos do grupo não se juntavam em estúdio para criar um disco. Aconteceu em maio de 2013 quando, devido ao mau tempo, o grupo teve de cancelar os concertos no Japão e aproveitou aqueles cinco dias livres em Hong Kong para alinhavar as primeiras ideias para um novo álbum, nos Avon Studios. Os temas foram inspirados em Hong Kong. Trata- se de um som urbano, tal como a cidade, admitiu Damon Albarn.
The Magic Whip foi o regresso “à forma como gravávamos quando começámos. Não era um flash studio, era muito claustrofóbico e quente”, explicou Albarn. E até o produtor de sempre, Stephen Street ( de Leisure, Modern Life is Rubbish, Parklife, The Great Escape, Blur) se juntou à equação. Em novembro de 2014, este e Graham Coxon revisitaram as gravações de 2013, convocaram os músicos para umas gravações adicionais e fecharam os 12 temas que compõem o novo álbum. A voz de Damon Albarn só foi adicionada já em 2015.
Graham Coxon admitiu numa entrevista recente que teve de resolver muitos dos problemas que tinham com Damon Albarn: “A nossa amizade foi testada, como qualquer amizade entre duas pessoas de uma banda. Este disco é uma forma de dizer: desculpa por ter sido um chato nos últimos 20 anos.” E se é verdade que em The Magic Whip encontramos pontos de contacto com o som e com os temas dos Blur de outrora, também é verdade que eles não ficaram parados no tempo e trouxeram para este álbum um pouco de tudo o que têm andado a fazer e a ouvir nestes últimos 20 anos. Como nas relações. Reatar nunca é voltar ao ponto onde ficámos, é encontrarmo- nos no ponto onde estamos agora.
E agora os palcos. O Hyde Park, em Londres, está pronto para o reencontro a 20 de junho. Por cá, depois de no ano passado terem tocado no Primavera Sound do Porto, em versão best of, vamos saber co - mo é que estes novos temas soam ao vivo a 17 de julho no festival Super Bock Super Rock, em Lisboa.