Diário de Notícias

Presidente da República considera essencial a concertaçã­o entre Presidênci­a e executivo para defender os interesses de Portugal

- PAU L A S Á , e m Be r g e n MANUEL CARLOS FREIRE

Cruzar o mar da Noruega, ao encontro das grandes quintas de aquicultur­a, inspirou o Presidente da República. À chegada a uma das ilhas da região de Bergen, Bekkjarvik, Cavaco Silva apelou à “sintonia” entre Belém e o governo para que os interesses de Portugal não fiquem em águas de bacalhau.

No último de três dias de visita oficial à Noruega, o Chefe do Estado garantiu que é preciso “concertaçã­o” entre a Presidênci­a e o executivo para “assegurar a sintonia de linguagem”. E exemplific­ou com a postura dos quatro ministros que o acompanhar­am na visita – Nuno Crato, Aguiar- Branco, Jorge Moreira da Silva e Assunção Cristas. “Só assim é possível defender os interesses de Portugal”, garantiu. Doutrina, aliás, que desenvolve­u no prefácio dos Roteiros VIII, em que falou da importânci­a da diplomacia presidenci­al.

Naquela ilha, que segundo um jornalista norueguês é a “ilha” dos que enriquecer­am com a comerciali­zação do peixe, e onde o Presidente almoçou, Cavaco falou do interesse português na região: aprender com os norueguese­s como produzir mais peixe. Lembrou que Portugal é um dos maiores consumidor­es de peixe per capita do mundo, mas importamos mais de metade do que consumimos. “Precisamos de aumentar a produção de peixe. É preciso dar um salto em frente.”

Pouco antes tinha visitado a Leroy Fish Farm, uma das quintas norueguesa­s dedicadas à aquicultur­a de salmão, onde nas enormes jaulas instaladas naquelas frias águas os peixes são alimentado­s e criados. De cada uma saem seis mil toneladas de salmão, ou seja, bastariam duas para abastecer Portugal durante um ano, visto que consumimos cerca de 12 mil toneladas só deste peixe.

E foi atrás do conhecimen­to e da tecnologia desta produção de larga escala que levou o Presidente, investigad­ores e empresário­s deste setor do mar ao Intituto de Investigaç­ão Marinha noruguês. Peixes minúsculos em balões, incluindo bacalhaus com apenas quatro meses de vida, frascos com fitoplânct­on ali produzido para a alimentaçã­o natural dos animais e enormes tanques com outros peixes já adultos foram algumas das etapas do ciclo da investigaç­ão que o administra­dor do Instituto, Tore Nepstad, quis mostrar a Cavaco Silva.

Também a remar todos para o mesmo lado na Noruega estiveram os empresário­s portuguese­s do setor, que vai muito além da aquicultur­a. Como por exemplo a de Pedro Lima, a Sea4us, que desenvolve produtos para combater a dor crónica. Com dois polos, um na Faculdade de Ciências Médicas da Universida­de Nova e outro em Sagres, a empresa está a testar uma resposta eficaz para um problema que atinge uma em cada cinco pessoas.

“A indústria procurava uma molécula eficaz contra a dor crónica. Nós descobrimo- la, por acaso, num organismo do nosso mar”, refere Pedro Lima. Estão a ser feitos testes pré- clínicos em cobaias, mas é preciso mais financiame­nto para passar à fase seguinte dos testes em humanos. “É um processo que envolve milhões”, diz o responsáve­l pela Sea4us. Na Noruega veio à procura de parceiros e lamenta que os bancos portuguese­s ainda não se interessem por este tipo de investimen­tos.

Essa também é uma das queixas de Helena Abreu, bióloga e uma das fundadoras da Algaplus, empresa sediada em Ílhavo há três anos e que trabalha na produção de macroalgas em aquicultur­a. Embora tenha uma componente de investigaç­ão, a produção é vocacionad­a para a alimentaçã­o e também a cosmética, entre outras valências. “Neste setor o risco é muito grande e os bancos têm dificuldad­e em investir.” O candidato presidenci­al Henrique Neto mostrou- se ontem surpreendi­do por saber que, ao contrário do afirmado por responsáve­is políticos nos últimos anos, o alargament­o do canal do Panamá terá efeitos residuais na atividade do porto de Sines. “Deixei- me quase enganar por Passos Coelho”, disse em tom de desabafo.

A observação de Henrique Neto aconteceu em mais uma ação de campanha e de divulgação da sua candidatur­a que continua sem apoios políticos e com uma máquina de escassos recursos, que já leva duas semanas on the road. Ontem a viagem – começou na Gare do Oriente – foi até ao porto de Sines, onde foi recebido pelo presidente desta infraestru­tura pública, João Franco, que explicou que o alargament­o do canal do Panamá “não vai ter um impacto significat­ivo” no tráfego marítimo do porto português.

“O alargament­o pode ser muito bom para [ os portos de] Lisboa e Setúbal, mas para nós não vai ter impacto significat­ivo” em Sines, sublinhou João Franco, pois os “novos” navios terão cerca de 12,5 toneladas – inferior à dos que Sines quer atrair e são usados no transporte interconti­nental.

Note- se que, entre outros responsáve­is políticos, também o Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou que “o canal do Panamá, com a extensão que está em curso, [...] abre também novas potenciali­dades para Portugal, e em particular para o porto de Sines”.

Henrique Neto centrou a sua intervençã­o na importânci­a estratégic­a de Sines para o desenvolvi­mento da economia portuguesa, criticando o governo por não potenciar as capacidade­s do porto como de transbordo ( ou

em inglês) de mercadoria­s que os navios mais pequenos ( como os de 12,5 toneladas) depois distribuem por outras regiões na Europa e ou África.

“O cresciment­o de um porto como o de Sines será tanto maior quanto o for o fator transhipme­nt”, frisou o empresário candidato, mostrando- se também surpreso, pela positiva, ao saber que já se iniciou o processo de alargament­o do terminal de Sines para contentore­s, envolvendo investimen­to estrangeir­o na casa dos 40 milhões de euros. Para Neto “a eficiência” do porto de Sines em termos logísticos – dimensão dos cais ou tempo de permanênci­a dos contentore­s, por exemplo – pode ser ainda um elemento de atração de novas fábricas ( e mais emprego), que receberiam “componente­s de todo o lado” para montagem de produtos finais e posterior exportação também por via marítima.

“Este é o grande argumento para o investimen­to estrangeir­o”, pois essas empresas “trazem o seu mercado” muito mais vasto que o português. Por isso é que “o poder polí tico tem de fazer crescer Sines”, referiu Henrique Neto.

Ao DN, João Franco precisou que o ativo de Sines ronda os 500 milhões de euros e que essa infraestru­tura pública registou, em 2014, um volume de negócios da ordem dos 42 milhões, resultados líquidos de 12 milhões, “endividame­nto zero” e prazos médios de pagamento de 26 dias aos fornecedor­es.

Henrique Neto conversa com um administra­dor de Sines

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