Diário de Notícias

“É complicado perceber se Strauss- Khan foi ou não incriminad­o”

Em Cannes, na apresentaç­ão de o DN esteve breves minutos com Jacqueline Bisset, que explicou o fascínio pela personagem que representa a mulher de Dominique Strauss- Khan. Uma interpreta­ção de uma força interior que é um compêndio da arte do

- RUI PE DRO T E NDI NHA

O filme Bem- Vindo a Nova Iorque, no qual o realizador Abel Ferrara dá a sua visão do caso Dominique Strauss- Khan, é protagoniz­ado por Gérard Depardieu no papel do então líder do FMI, e Jacqueline Bisset, que interpreta o papel da mulher de Strauss- Khan. Apresentad­o em Cannes em 2014, tragicamen­te não estreou no cinema e está agora num lançamento exclusivo em DVD nas prateleira­s das Fnac. O que é que se está a passar consigo? Parece que está de novo no topo deste jogo do show business: ganhou recentemen­te um Globo de Ouro e agora este papelão... É a vida a acontecer. Às vezes tentamos alguns papéis, uns acertamos, outros não... Também apetece por vezes desistir mas voltamos ao jogo. A minha máxima é nunca, nunca desistir. O Winston Churchill dizia isso e é mesmo uma das minha citações preferidas. Acredito tanto nisso. Quando alguém continua a insistir ou fica melhor ator ou eventualme­nte é esquecido. O que me aconteceu é que me sinto muito destemida. Quando ouviu falar pela primeira vez do escândalo do caso Strauss- Khan, o que pensou? Imaginei se não o teriam incriminad­o de propósito... Este mundo é tão corrupto que é difícil acreditar em alguém. Não temos a certeza, mas era bem possível que este homem viesse a tornar- se presidente da França! Tinha boas hipóteses... Mas é muito complicado perceber se ele foi ou não incriminad­o! Como foi a atmosfera na rodagem de um filme com um tema tão “quente”? Posso dizer que o Abel Ferrara berra e, na maior parte das vezes, não res- ponde a perguntas. Demorei um ou dois dias para me habituar. Pensei: está a gritar comigo mas não é pessoal – faz parte do processo. Mas gostei dele, apesar da sua dureza. Há ali um charme que faz descobrir uma certa suavidade. É um tipo porreiro, tal como o Gérard Depardieu. Estar no meio de ambos é a mesma coisa do que conviver com dois ursos [ risos]. Fazem muito barulho. A grande lição que aqui aprendi foi de não reagir, não levar as coisas a peito. No meio de toda aquela gritaria só quis aprender. Nós somos atores e fazemos o nosso trabalho em função do instinto e sabe- nos bem sentir que existe alguém a controlar tudo, basicament­e sentir que o chefe é o realizador. Numa das sessões oficiais do filme no Marché de Cannes avisou o público de que iria assistir a uma experiênci­a violenta. Esperava que o filme depois se tornasse assim tão rude? Eu disse isso? Sabe, o público era meio idoso e estavam ali para o glamour. Comecei a imaginar o que seria se começassem a sair todos a meio da sessão... Aparenteme­nte, ninguém saiu – é um filme muito bom! Diria que é um filme provocador em que se passam coisas chocantes. O Gérard Depardieu é particular­mente corajoso, embora seja difícil perceber a sua personagem. A sua personagem não é também complexa? A minha personagem é, na verdade, uma mulher tradiciona­l. Esperta e sensível. Tem muitas qualidades mas está a chegar ao fim da linha: a sua frustração e tristeza começam a sair para fora. O que acho mesmo interessan­te é que a personagem do Gérard não é bem um homem, é mais uma criança, o que a torna mais numa mãe – não deixa de ser ambivalent­e, sobretudo porque ela

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